ADEUS SÃO PAULO II
Para um nômade como eu, domingos não são bons dias para se ficar em uma cidade do interior. Tudo fecha e isso chega a causar-me até uma certa deprê… por vezes fica difícil mesmo achar o que comer. Nada de lan-houses abertas, ou então só abrem já tarde alta… As ruas ficam desertas e perambular torna-se uma atividade bem menos interessante do que o costumeiro. Assim, sendo domingo, parti.
Após um saboroso café da manhã em companhia da família De Fazio, deixei a Pousada Topitó, em Itararé quando os relógios marcavam 08:40 hs. À frente me aguardavam 60 km até Jaguariaíva, minha próxima parada. Mal tomei a estrada e já me deparei com a divisa de estados. Uma volta a mais nos pedais e eis que havia deixado para trás o meu querido São Paulo. Tudo agora era paranaense… a estrada, a mata, as nuvens, o ar, até as placas rodoviárias.
Segui descansado por uma estrada em boas condições e após uns 16 km cheguei à cidade de Sengés, que não visitei . O sol torrava os miolos. Algumas pessoas comentaram “maneiro, boa viagem” e entrei novamente na terra de ninguém, o espaço intermunicipal das rodovias…
Ao contrário do que vinha encontrando até aqui em terras paulistas, no Paraná não via nada à beira do asfalto que não fossem lindos trigais. Nem uma casa, uma venda, uma cruz de beira de estrada… nada. Isso chegou a me preocupar, pois caso algo acontecesse não poderia contar com ninguém que não fossem os motoristas passantes. Mas não havia nada de errado e assim segui meu caminho.
Quando o odômetro marcava 22 km, enquanto transitava pelo acostamento de um trecho em obras, passei a ouvir um forte ruído na traseira da bicicleta. Era como se algo estivesse arranhando algo debaixo do banco, ou no bagageiro… O som era alto e preocupante. Supus que tivesse a ver com os pedriscos soltos de asfalto sob a roda, subi o degrau da pista e o ruído cessou. Sim, tinha a ver… mas o que? Desci, empurrei atentando ao giro da roda traseira e após quebrar um pouco a cabeça descobri: no ponto em que o pneu passa a um mísero milímetro do para-lamas, as pedras asfálticas grudadas na borracha raspavam o plástico com violência. Ufa! Podem raspar à vontade… Naquele local, seria bem ruim caso fosse um problema verdadeiro.
Pouco adiante, numa barreira para que os carros que iam no meu sentido parassem, um velho Corcel abóbora que estava chegando atrás de mim buzinou freneticamente e o motorista gritou: “Eu vi o Sr. na televisão”. Ah… pensei… “então a matéria da TV Tem saiu”, e gritei “Beleza”, já tocando avante visando uma longa rampa que se avizinhava. Aliás, bem que fui avisado… de Itararé a Jaguariaíva o que não faltam são subidas. Não são íngremes, porém muito longas. Como nesses trechos viajo entre 4 e 5 km/h isso atrasa bastante, prá não falar no desgaste. Mas quem quer conforto não inventa de dar a volta ao mundo de bicicleta, não é mesmo? Em muitos trechos, desci e empurrei…
Mais alguns quilômetros, quando estava parado para fotografar uma simpática vaquinha, um carro parou no acostamente à minha frente e dele desceram 3 amigas que me pediram para posar com elas numa foto. OK, claro que sim mas não… “não fui eu que saí no Fantástico.”
Foto feita, segui adiante, já sonhando com a minha pausa, programada para quando tivesse 30 km rodados. Ao chegar aos 29 incomodei-me com o fato de que não havia à vista uma sombra sequer na qual pudesse comer e descansar. Pois após uma curva, aos 29,6 km, eis que por milagre o infindável trigal à direita se tranforma magicamente num eucaliptal. Nossa, no momento exato em que atingia os 30 kms as árvores passaram a dominar ambas as laterais da pista. Obrigado a quem quer que, aí em cima, tenha articulado esta grande cortesia.
Então, após mais uma parada com direito a alongamento aos 45 km, cheguei ao trevo de entrada de Jaguariaíva, quando o odômetro marcava 62 km. Eram 14:30 hs e tudo estava bem. Liguei para o Nivaldo, o contato que me havia sido passado pelo Elói, e ele me deu as indicações para encontrá-lo defronte à sua agência de turismo numa das praças principais da cidade. Lá chegando, conheci sua família e fomos todos à sua casa, onde me foi servido pela Helena, sua esposa, um saboroso café com leite, pão, manteiga, muzzarela e presunto. Maravilha, mais uma coisa que chega na hora certa. Então eles me expuseram o potencial turístico de Jaguariaíva, que possui um rio com excelentes condições para a prática do rafting, pontos de rapel e outras atrações a serem melhor divulgadas pelo poder público.
Por fim, dirigi-me ao hotel no qual o Nivaldo havia reservado um quarto para mim e surpreendi-me ao constatar que tratava-se de um hotel muito legal. Não estou mais acostumado com isso… Achei curioso o adesivo ambientalmente correto estrategicamente colocado defronte ao vaso, chamando os hóspedes a uma análise de consciência…
Antes de entrar no chuveiro, dediquei-me à tarefa de sair catando pelo quarto a infinidade de pedriscos da estrada que estavam presos nos alforjes e voaram prá todo lado assim que tirei as capas. E foi bem bacana chegar, tomar uma deliciosa ducha, colocar minha roupa limp… digo… menos suja e sair para internetar e, logo mais, dirigir-me à festa que está acontecendo por conta do aniversário da cidade. Hoje é o último dia dos festejos e não vejo a hora de experimentar o famoso arroz tropeiro, um dos pratos típicos da região. São 18:30 hs e tudo vai bem neste canto norte do Paraná.
RESUMO CICLÍSTICO:
DATA: 18. Setembro. 2011 / Domingo
LOCAL: Jaguariaíva, Paraná (Brasil), ALTITUDE: 870m
TEMPO: Dia muito quente. Sem chuva.
TEMPERATURA: 13ºC – 26ºC
KMs PEDALADOS HOJE: 62 km
MÉDIA: 8,4 km/h
VELOCIDADE MÁXIMA: 58 km/h
HORÁRIOS PARTIDA / CHEGADA: 08:40 hs / 15:00 hs
OCORRÊNCIAS: só um susto devido a um barulho estranho que não era nada…
TOPOGRAFIA: região montanhosa
CONDIÇÃO FÍSICA: Cansado, mas não destruído.
DIAS DE ESTRADA: 16
DIAS PARADO (em descanso, turismo ou reportagem): 9
KMs PEDALADOS ACUMULADOS: 451 km
QUILOMETRAGEM TOTAL PERCORRIDA (inclui ar + mar): 451 km
Sugestão. Aí em Jaguariaiva tem uma grande fábrica de papel e celulose, e eles tocam um incrivel projeto de preservação ambiental e sustentabilidade. Vale a pena tentar conhecer. Meu irmão trabalha nessa industria na parte contábil e foi ele que me disse isso. Abraços e boa estada em Jaguariaiva e no meu Paraná.
Boa dica… fuçarei… abração
TUDO VAI BEM, CAMARADA, ENTÃO CARPE DIEN !Continue com essa boa fortuna.
Abração.
Leo
S’imboraaaaaaaaaaaaaa hehe
Já postei alguns comentários e nunca me identifiquei. Sou um Paranaense de 46 anos de idade, moro em Cambará norte velho do Paraná, divisa com o Estado de São Paulo com a cidade de Ourinhos. Quando vi seu projeto torci para que vc tivesse vindo pela Castelo Branco sentido Foz do Iguaçu, eu teria tido o maior prazer em recebê-lo em minha casa. Sou um cicloturista iniciante. Em dezembro de 2010 eu estava com 136 kg e a bicicleta foi a responsável pela perda de grande parte de 31 kg, hoje estou dom 105 kg e pretendo chegar a 90. Para isso coloquei meu carro de lado e vou para o serviço somente com minha bicicleta reclinada que eu mesmo construi. Trabalho na cidade de Jacarezinho distante 22 kms de minha casa. Pretendo fazer uma cicloviajem em outubro saindo de Cambará-Pr indo pra Ribeirão Preto-SP, São Carlos, Sorocaba depois ir pelo caminho que vc acaba de percorrer até Jaguariaiva em casa de meu irmão depois voltar pra Cambará, totalizando 1100 kms aprox. Sou policial rodoviario à 29 anos. Abraços e bom pedal.
Aê, Rosso. Gostei de ver. É isso mesmo, força de vontade conseque milagres. Continue nos contando sobre os seus progressos. Outubro já tá aí… agora seremos dois na estrada hehe abração
É isso ai Elcio….Força na peruca!!!!
Devagar, vai… nem que seja com laquê hehehe Abs, Vanderlei
Oi primo !!! Hoje sou a primeira a comentar pois já estava esperando a hora de voce postar. Mas quem vai te oferecer uma reportagem hoje sou eu, sem fotos e sem recursos como os seus, porém com riqueza de detalhes e tendo a certeza de que voce vai gostar !!! Entre no seu email do” projetorodaslivres” e verá. Hoje voce cumpriu mais uma etapa da viagem, pense agora em descansar,ir á festa, comer mais um pouquinho e por fim dormir uma noite bem tranquila de sono reparador… Fique com Deus um beijo em seu coração e um abraço muito, mas muito apertado mesmo !!! Voce não sabe o Bem que me fez…te gosto muito e obrigada.
Elcio,
Agora você vai começar a viagem (rss). Pelo que me lembro da região, as distâncias entre as cidades parecem ser maiores e talvez você tenha de dorminar na barraca. Boa sorte e boa viagem.
Putz… Renato. Perigas mesmo. Isso vai inaugurar uma nova fase na aventura. Não faço muita questão de barraca e até aqui tenho conseguido contorná-la… mas tens razão: dia virá em que isso se mostrará deveras impossível.
ELCIO,
ESTOU ACOMPANHANDO TUDO DAQUI, E QUANDO COMENTO COM ALGUEM SOBRE O SEU PROJETO, JÁ ME PEDEM PARA ENCAMINHAR POR E-MAIL. MUITO LEGAL AS SUAS NARRATIVAS E QUE O DEUS DO PARANÁ TE ACOMPANHE, ABRAÇO.
Querido Adilson. Que legal. Metade do prazer que estou tendo nesta aventura vem de saber que minhas modestas narrativas diárias tem servido de estímulo a tanta gente. Vejo que a carência por aventura é grande no imaginário coletivo hehe Abração Primo
Elcio,numa das idas pra Ilha do Cardoso junto com seu (nosso) irmão Dédo, durante a viagem ele comentou que a palavra “aiva” ou “aiba” significa ruim, estragado, em tupi. Sei que Jaguar nesse idioma é onça e se anexarmos o sufixo “i” (Jaguari)a esta palavra ela quer dizer Rio das Onças. Por dedução Jaguariaiva significa rio das onças ruins ( bravas, talvez?).
Esse comentário é apenas uma deixa para que seus leitores diários, companheiros de viagem que se manifestam neste espaço, possam ir trocando informações atinentes aos seus relatos. Se é que você considera a sugestão oportuna.
Grande abraço.
Zeca
Não só a considero oportuníssima como fico feliz em ver que a conclusão tupi-guaranística a que havia chegado aqui dentro da minha cabeça confere com a que você acabou de apresentar. Assim, creio que aumenta em muito a possibilidade de ambos estarmos corretos. É engraçado como você expôs teu raciocínio ipsis-literis como eu o havia imaginado – com o acréscimo porém do “brava”, que cabe bem melhor do que “ruim”. Nisso eu não havia pensado. Mas é bacana ver a quantidade de topônimos provindos dessa nossa lingua primeva aqui por estas bandas.
Abração, Zéca
Arroza Tropeiro??? Não é feijão?? rs Bjoo
Aqui tem dos dois. Mas o feijão foi o tema da festa de ontem… hoje é o arroz =) bj
Força, amigo, o mundo o espera!
Hehehe… já tô no mundo, Amilcar. Abração
Elcio
Sempre em frente ,e com fé o mundo já está 450 Kms. menor. Parece pouco tendo em vista o que vem pela frente,
Mas é animadora e estimulante esta aventura.
Eu acredito em você
Zorbha
Maravilha, gostei das fotos de Sengés, vc tá ficando famoso mesmo.
Abração, bom descanso agora.
Pena que não deu prá entrar… mas a gente não pode entrar em todos os lugares gostosos que gostaria, né mes, Vitorio?
Fala, Garoto! Tô adorando acompanhar suas aventuras! Seu texto é tão bom que parece que a gente tá vendo tudo com você! Eu tô no Alaska, mas vim de avião! E olha que reclamei bastante da distância… Você é meu herói!!! Beijo!
Po, Li… então tás esperando o que prá começar a descrever prá gente o que que o Alasca tem? =) Quando fui de NY pro Japão sobrevoei-o e fiquei encantado com o que vi. Deu muita vontade de pedir pro piloto dar uma descidinha só prá ver de perto aquela imensidão natural. Legal que vc tá acompanhando a saga, vamos juntos e boa viagem. bj Elcio
Grande Elcio, I am with you all the way!!! Keep doing what you are doing and never forget you have friends in distant places cheering you on..( and wishing they could put in some cycling kilometres with you. Forte abrasso do Gringo John
My dear John. It’s is a great pleasure to me knowing that you are in. Unfortunatelly, as you surely have noticed, I had to drop my English posts, for I have not the time needed to prepare them. We (some friends in SP) are studying some way to translate them automatically, even if we know that this kind of translations doesn’t work very well… but it’s better than nothing. Let’s keep cycling together! Hugs Elcio
Elcio, vá em frente…, estou adorando as suas narativas diárias e ilustradas com as fotos e às vezes os vídeos.
Já virou costume, a chegada do seu diário de bordo à noitinha…
Ontem, o seu diário chegou minutos antes de começar o nosso culto na Igreja, li um pouco que deu tempo e durante o mesmo, orei muito por você e pelo trajeto a percorrer!
Fique com Deus!
Abraços;
Valeu, Ronaldo. Obrigado. Bons fluidos são fundamentais nas atuais circunstâncias… abração
Ta ficando famoso, brevemente vamos saber de ti no JN e no Fantástico.
Cicloturismo global. Numa dessas fotos,vai rolar um clima, voçê vai dar um tempo em alguma cidade e vai lembrar da caixa de camisinhas la da Sé. Te conheço Thenorinho.
Abraço.
.
Que isso não demore, Jura… heheh
Viciante sua narrativa, fiquei sem poder ler um dia e senti falta. Segue firme no pedal; Parceiro. E que muitas árvores sejam postas em seu caminho. Cicloabraco
Pois é, Tony… nessas horas é que dá prá perceber que num deserto a barra deve ser pesada… abração
Oi primo! Q bela surpresa o eucaliptal, nâo? Deus, é um Deus de providência. Confia Nele e o resto Ele fará. Bjos!
Até aqui ele tá se saindo bem… =) Bj
Caro Elcio, feliz por vc e em saber que vc já está no Paraná! Comentamos com a Celi e o Emerson sobre a sua breve estadia em Itararé e todos confessaram estarem acompanhando seus relatos!! Desejo uma ótima estadia aí! Bjs e fica com Deus!
Que legal, Diana. Viajar com os amigos é bem e melhor =) bj
Muito bom….Acompanhando!
abração
Beleza, Marquim. Devagarzim a gente vai tocando, antes que a vida nos toque… hehe abração
Elcio olá!!!
Que bacana sua postagem, lindas fotos, você animado… e oba hoje tem festa! Aproveite!
Que essa cidade te receba com carinho, coisa que não duvido…vc ta sendo mimado isso sim! hehehehhehe beijão e fica com Deus! 🙂
Eu mereço, Vera hehehe bj
Tio, estou na escuta e operante! Um relato mais emocionante, engraçado, desafiador do que o outro! É tudo muito lindo, as fotos estão show! Meus amigos estão todos entrando no seu site pra acompanha-lo! Todos estão curtindo muito! Que você tenha uma maravilhosa estadia no Paraná!!
Beleza, Frau. Devagarzinho tamos progredindo… (bem devagarzinho,por sinal hehehe) abração Tio
Oieeeeee, não comento todos os dias mas não deixo de ler e estou achando o máximo as fotos, só assim pra vermos tantos lugares lindos. Bjssssss.
Que legal, Lucila. Bom saber que vcs tão aí na retaguarda. bjo