O BURACO DO PADRE
Bem, o jantar na casa da Cinthia estava maravilhoso. Culinária coreana preparada com carinho por sua mãe, D. Juliana. Ali também conheci novos amigos, o Felisberto e a Neli, que no dia seguinte, domingo, me proporcionariam um dos passeios mais legais feitos até agora nesta já longa aventura.
Falemos do domingo, pois. Acordo às 07:00 e abro a janela, como esperado constato que a manhã está gélida. É primavera, mas ninguém avisou São Pedro.
Tomo um café-da-manhã digno de hóspedes mais abastados e saio à procura de uma lan-house, visto que tenho muito trabalho por concluir. Avidamente busco por portas abertas no comércio. Nada… ruas e calçadas vazias. Céu nublado, vento cortante.
Dirijo-me ao terminal rodoviário, onde segundo relatos deveria haver uma internet aberta. Encontro-a, mas com as portas cerradas. Decepção, frustração, ódio, trabalho mental para reverter o ódio, a frustração, a decepção… Pronto, já estou mais calminho. Saio perambulando a esmo, subindo o calçadão, acompanhado de um grande cão preto que vem cheirar minhas pernas e segue cheio de energia, fazendo xixi a cada poste. Admira-me, pois a mim desagrada ter de fazer vários xixis consecutivos, mas ele parece gostar e vai marcando o território com duas gotinhas aqui, três ali. Ao chegar a uma praça é recebido com hostilidade pelo chefe do bando, mas ignora-o solenemente, meu quadrúpede amigo.
Vestindo meu idefectível único modelito, ergo a gola do casaco e enterro as mãos nos bolsos em busca de conforto térmico.
Vou fazendo fotos do centro da cidade, até porque não há mais o que fazer. Quando encontro uma nova lan-house, invariavelmente está fechada. Já meio no desespero, pois havia reservado o domingo para por em dia todas as minhas edições de video, upload de fotos, redações de textos, respostas a e-mails e comentários e etc, coisas que somadas levarão horas frente a um computador, rendo-me às evidências e vou internetar no hotel, onde a hora custa R$ 8,00. Um abuso com o qual até então havia me recusado a compactuar. Mas não tem mais jeito, o tempo está passando e inicio ali mesmo minha tentativa de concluir a edição da reportagem sobre o moinho de vento de Castrolanda. A tarefa, a princípio, é simples: incluir um insert de uma gravação em outra. Mas o You Tube Editor, ferramenta online que utilizo, tem bugs e não me permite fazer as fusões corretamente. Perco um tempo e uma grana preciosos lutando com o software. Por fim, quando começo a irritar-me novamente, desisto e largo o serviço pela metade. Já estava ficando caro e, ao menos, consegui fazer uma das duas fusões que necessitava.
É hora do almoço e vou utilizar um dos três vales-refeição que tenho para um dos melhores restaurantes da cidade, o La Gondola. Caminho alguns quarteirões a ao chegar deparo-me com um ambiente familiar e luxuoso, onde parece estar reunida a elite de Ponta Grossa. Sou recebido pelo maître e, para evitar dissabores posteriores, já explico a ele as condições em que comerei. Ele me indica o buffet e esclarece que tenho o direito a um refrigerante. Café e sobremesa serão à parte. Há uma fila de pessoas se servindo, aguardo e por fim monto um prato com inúmeras iguarias: arroz ai funghi, robalo com amêndoas e, como se não bastasse, rodízio de carnes. Quando parti de São Paulo, preparei-me para me tornar uma espécie de mendigo internacional. Portanto, não estou preparado psicologicamente para isso…
Ao final da refeição, solicito um expresso. Ao tentar pagá-lo, no caixa, recebo um sorriso de um senhor que me parece ser o proprietário. Ele me diz que o café será uma cortesia e me estende a mão, num cumprimento. Parecia conhecer-me. Não entendi bem, mas fiquei muito feliz. Ainda tenho 2 vales e pretendo sem dúvida voltar lá. Qualquer pessoa com um mínimo de juízo pretenderia.
Voltando a caminhar, dirijo-me ao shopping na suposição de que ali não faltará um terminal disponível. São 13:45 hs, a lan-house do shopping está fechada mas o guarda me informa que ela estará aberta às 14:00 hs, o que de fato acontece. Mas é tarde, porque para às 14:00 hs estou aguardando dois telefonemas: da Cintia, para combinar o passeio de logo mais, e da Luciele, para combinar a entrevista que ela me concederá sobre Psicologia Ambiental. Portanto, já meio de mau-humor por saber que não dará tempo para fazer quase nada, retomo as edições. Por sorte, consigo adiantar alguma coisa antes que o telefone toque. Feitas ambas as combinações telefônicas e marcada a entrevista para logo mais à noite, dirijo-me à porta principal do shopping para encontrar a Cintia, o Felisberto e a Neli, que virão me pegar para o passeio combinado a um local nos arredores da cidade, denominado “Buraco do Padre”.
Nos encontramos e partimos. Tomamos a rodovia por alguns quilometros e logo saímos para estradas de terra.
Caminhamos por uma trilha que aos poucos vai adentrando uma mata mais fechada.
Água… tiramos os calçados para atravessá-la e – UAU! – mal posso crer no que os olhos vêem: uma caverna altíssima ladeada por paredões de pedra cobertos por musgo, com o sol penetrando por entre as frestas. A visão é lindíssima, mas o melhor ainda está por vir.
Adentrando a caverna, chego a um recinto esculpido pela natureza que mais parece um altar sagrado… difícil até descrevê-lo… uma enorme formação cônica com água em baixo e uma abertura em cima por onde entra a luz. Do alto, jorra uma cachoeira que provoca um violento deslocamento de ar ao chocar-se com a água abaixo. Para completar a cena idílica, ou onírica, andorinhões sobrevoam o tôpo e aos grupos mergulham para dentro, indo se esconder na enorme fenda de onde verte a água. Estou estupefato. Poucas vezes na vida me vi diante de um espetáculo natural exuberante como este. Fotografo sofregamente, mas a câmera é dolorosamente incapaz de registrar o que vejo. Talvez porque a grandiosidade esteja mais no que sinto. Reverto-a para a função video e gravo uma reportagem. Isso aplaca um pouco minha ânsia por mostrar o que me circunda.
Saindo daquele ambiente mágico escalamos, o Felisberto e eu, para o tôpo da formação. Lá chegando, vejo um lago onde a água se acumula antes de projetar-se abaixo. Faz frio, não é o caso de mergulhar, mas fico tentado. Agora estou bem mais perto das andorinhas, que em bando sobrevoam. Deste ponto é ainda mais lindo vê-las arrojar-se num zig-zag alucinado para dentro da caverna.
Que perfeição este lugar. Para completar, olhando ao longe vê-se o desdobrar dos campos gerais. É fim de dia mas um dia para mim muito especial. Mais que feliz, estou em estado de graça por aqui ter estado.
Voltamos ao carro e, prestes a sair, vejo passar, saindo do mato, o Briski e o Juliano, que tanto me ajudaram na última cidade, Castro. Este é deveras um mundo pequeno. Chamo-os, cumprimentamo-nos e enfim partimos. Volto ao hotel e ligo para a Luciele, marcando de nos vermos logo mais. Ela virá ao meu encontro, no hotel. Aproveito para lavar roupas, tomar banho e… não… não vai dar tempo agora para consertar a câmara furada. Desço para adiantar, no caríssimo terminal do hotel, mais um milímetro que seja a minha trabalhosa edição. E logo chegam a Luciele e a Layuny, sua amiga. São 19:00 hs e vamos todos caminhando a uma simpática padaria, um dos únicos estabelecimentos abertos da cidade. Ficamos um bom tempo conversando e dali saímos para a gélida noite a fim de gravar a entrevista n’alguma praça fotogênica.
Concluída, sentamos defronte à catedral para conversar e ali ficamos um bom tempo. Mas a noite é fria e voltamos ao hotel na esperança de tomarmos algo num ambiente mais aconchegante. O hotel, embora luxuoso, não serve as três cervejas que solicito, alegando que a cozinha só reabrirá após às 23:00 hs. Incrédulo, agradeço. Por sorte, informa-me a recepcionista que há um bar aberto a apenas um quarteirão. E ali, enfim, conseguimos uma mesa e três cervejas para acompanhar uma conversa saborosa, numa temperatura civilizada.
RESUMO CICLÍSTICO:
DATA: 26. Setembro. 2011 / Segunda-feira
LOCAL: Ponta Grossa, Paraná (Brasil), ALTITUDE: 975m
TEMPO: Dia de sol, vento frio. Sem chuva.
TEMPERATURA: 11ºC – 20ºC
KMs PEDALADOS HOJE: 0 km
MÉDIA: –
VELOCIDADE MÁXIMA: –
HORÁRIOS PARTIDA / CHEGADA: – / –
OCORRÊNCIAS: nada, mas ainda são 12:00 hs…
TOPOGRAFIA: região montanhosa
CONDIÇÃO FÍSICA: Excelente.
DIAS DE ESTRADA: 24
DIAS PARADO (em reportagem, turismo ou descanso): 16
KMs PEDALADOS ACUMULADOS: 567 km
QUILOMETRAGEM TOTAL PERCORRIDA (inclui ar + mar): 567 km
Elcio, que vida gostosa e boa!!!sorte procê amigo!!! tô curtindo de longe…! eu e silvio mandamos beijos peregrinos!
Ueba, Marcinha. O bão é a presença dos amigos. Bjk pro 6 2
Elcio, tudo bem?
Quando produzi programas de turismo, há 15 anos atrás (Rede Mulher, Rede Bandeirantes, SBT, Rede TV), pude conhecer verdadeiros paraísos escondidos pelo Brasil…, parabéns o local é realmante muito lindo!
Abraços
Estupefacente! E deve ter mais por aí… abração, Ronaldo
Agora ta rindo na foto né Thenório…
Vc apenas ganhou na loteria… só isso.
Incrivel tudo, me belisca…
É… mas a situação é altamente instável… curtamos enquanto tá bom. Abração, Borella
Sorrizinho muito filho da puta na foto….
Pô, ma che perseguizione…
Grande Élcio!!!!!! Shom de bola este buraco….rs
Segue link de uma cara que em 1992 deu a volta ao mundo de bicicleta numa viagem que durou 3 anos e meio. Ele conta a aventura no livro “No Guidão da Liberdade” que também recomendo! São 7 livros editados, muitas viagens e muita história para contar, digo, no seu caso para Ler…
Vale a pena visitar o site para quem sabe algums referencias. http://www.olinto.com.br/
Boa Sorte
Opa, Vanderlei. Não só li e reli, como presenteei um exemplar e – vez em quando – tenho a honra de me corresponder com o Olinto. Essa obra foi um dos meus incentivadores… só não tenho o pique dele para acampamentos, evito o quanto posso hehehe
Tá de bem com a vida né?
em frente que tem muita surpresa por vir.
A idéia era exatamente essa, Borba. Por enquanto, ainda em terras do Pindorama, tem dado certo… Abração
eu novamente…, adorei seu apelido “Mendigo Internacional”.
Otra coisa, o seu nº tel cel. atual é o mesmo da época Nova Engs?
Abração…
11 8519-5096 até a fronteira hehe Abs, Ronaldo
Que show de lugar, lindas fotos, relatos idem!
Falei com a Cintia nesta manhã, colocamos a prosa em dia, desejo uma boa reunião no Rotary hoje a noite!
Recebi sua msg no cel ontem, eu tava no sítio… 🙂
Beijo e fica com Deus!
Vamo que vamo! Ah… antes que eu me esqueça… mudança de planos. Graças à Cinthia fico aqui mais um dia. Parto para Imbituva na quarta, portanto. Por acaso, tens algum canto prá eu cair lá?
Que beleza é a natureza. principalmente acompanhada de 3 cervejas…
Hehe… mas deu um trabalhão…
Sensacional, q lugar espetacular!
Em geral, os buracos tem esta característica…
Tambem percebi a diferença nesta cara, 3 cevejas e 2 gatas.
Este é o Elcio que eu convivi.
Abraço de um igual.
Jura.
Não posso negar, estava em muito boa companhia.
Hotel de classe, natureza linda, moças lindas, vai ser difícil largar dessa Ponta Grossa, hein Elcio?
Pô Augusto, se eu soubesse que Ponta Grossa era assim faria até apologia… hehe
Essa ” passarinhada” q vc fotografou, dorme dentro do ” buraco do padre”. Vi o momento voltar pra casa,digo,dormitorio um pouco antes dum por de sol.Bejinhos, enjoy !!!!:)
Elcio já fiz contato com a Prefeitura de Imbituva e pedi ajuda pra Cintia também, no Rotary hoje a noite podem ver entre os participantes algo sobre Imbituva, enquanto vou tentando daqui, ok?
Te mantenho informado em QAP operante!!! rsss beijooo se cuida!
OK, Vera
Obrigado
bj
Oi primo!!! pelo que vi domingão só de alegrias hein!!! Já li e curti todas as reportagens, achei muito legal a da Psicóloga ecológica …Espero que a Veralice ” anjo guardião” consiga a estadia em Imbituva e vamo que vamo uhlll…beijo grande lindo fique com Deus.
Beleza, prima. Tá rolando… =) bjk
Olá amigo ciclogalopante.Realmente Ponta Grossa encontra-se numa região fantástica. Pense bem:
“Ponta Grossa” e “Buraco” do Padre sujerem mais que uma beleza singelamente geográfica. Chega a ser algo libidinosa!!!(hehehe).
É Zéca… até seria se a Ponta Grossa estivesse inserida no Buraco do Padre. Mas por obra de Deus dá-se o contrário. =)
3 Cervejas !!!! Pintou um clima ????
Começou a render essa aventura !!!!
Vai com “DEUS” mermão !!!!
Hehehe… nem se tivesse pintado não daria prá comentar… abração, Bodinho
A natureza é mesmo maravilhosa, bjsss.
Eu já achava a Paola Oliveira uma bela obra da natureza, mas o Buraco do Padre…
elcio, que surpresa mesma…das mais agradáveis possiveis…..o dia já estava otimo, ficou mais ainda…vai com deus irmão e que deus o acompanhe…
Digo o mesmo, Juliano. Quero agradecer novamente a força q vcs me deram aí. Realmente fui muito bem tratado e conheci pessoas maravilhosas. Estou adicionando o teu e-mail no mailing do projeto, tá? Abração Elcio
Fala tio, muito legal o Buraco do Padre. Vou incluir no meu roteiro quando der um tempinho pra passear! As reportagens estão 10! Gostei de ver esse post! Mulheres bonitas também são obras da natureza!! Boa viagem até a próxima cidade, vai com Deus tio!! Estamos sempre orando por vc!
Beleza, Flavinho
Também to gostando muito. Vamos prá frente, que tem mais huhuuuuuuuuuuuu abs Tio
Parceiro, com o seu talento com a palavra escrita, no final da “brincadeira”, vai render um grande livro sobre cicloturismo. Segue que tá muito bom. Forca no pedal!
Obrigado, Tony. Os comentários, como os seus, são meu guia de que ando próximo da linha mestra… obrigado e abração