\\ Blog diário de bordo

1 Oct 2011

CONJECTURAS AO SOL

Ontem à tarde vi algo curioso:  em Imbituva é comum tomar cerveja long neck de canudinho.  São detalhes que saltam aos olhos…  aliás, a primeira vez que vi foi meio de raspão, achei que tinha visto demais.  Só acreditei quando eu mesmo pedi uma e o rapaz me perguntou:

– copo, canudo, no bico?

Bem… o Brasil é grande…

De volta ao hotel, o sol já se punha.  Um lindo anoitecer visto do centro do Paraná.

Perguntei à recepcionista o que havia de bom para se fazer à noite na cidade.  Ela me disse “hoje tem Sextaneja”.  Achei legal, mas não me animei.  Deveria, porque mais tarde saí para comer algo e, vendo toda a rapaziada na rua, confesso que me senti um pouco só.  Sou ruim prá me enturmar.  Então desencanei e fui fazer o que tinha de fazer.

Tava meio puto. Não bastasse ter perdido uma matéria no YouTube, agora foi a vez das minhas fotos.  Perdi quase todas no Picasa.  Sitezinho filho-da-puta…  achei que estavam devidamente salvas e as deletei do telefone, que já estava ficando pesado.  Mas elas estavam linkadas telefone-site, e ao deletar aqui sem o saber estava deletando lá.  Quando vi, não pude acreditar…  Tudo o que havia captado, editado, salvo com o maior critério visando um dia fazer um livro, sei lá…  foi pro saco.

Assim, de erro em erro, fui dormir logo após o final da saga do Herculano Quintanilha, que se estou entendendo bem, é um magicozinho mau-caráter. Onde já se viu tratar daquele jeito a Juliana Paes?  Mas o Globo Repórter mostrando as maravilhas do Atacama estava excepcional, embora preocupante…  Deixa prá lá…  Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Sete da manhã, toca o despertador (modernamente, o smartphone).  Alço-me para mais um dia de pedal.  Desta vez uns 47 kms me aguardam.  Deverá ser fácil.  Após a ducha, lambuzo-me de protetor FPS 50.  Pela primeira vez, coloco sob o capacete o meu boné estilo japonês, com protetor de nuca, o que me deixa com uma aparência ainda mais esquisita do que normalmente.  Calço meias brancas mais finas, sociais, porque as esportivas são apertadas e ao pedalar estou tendo muito problema com formigamento nos dedos dos pés (a longo prazo, isso talvez seja prejudicial…) e saio de Imbituva já caindo numa estradinha agradável.

Vejo algumas cenas lindas, mas não me vai de parar a bicicleta, alcançar o smartphone, configurá-lo até que esteja pronto para fazer uma foto e depois guardá-lo.  Quero pedalar, quero adiantar-me ainda que não tenha pressa.  Fica a sugestão para que as bicicletas do futuro tenham, além da basuca, uma câmera acoplada.

A manhã está aprazível e pedalo descansadamente.  Poupo-me ao máximo para ir o mais longe possível sem cansaço.  Estranhamente, encontro mais descidas que subidas. Passa boi, passa boiada e após uns 8 kms chego à BR-373.  Merda, pensei que a estradinha fosse me levar até Prudentópolis.  Estradão é estradão… não tem moleza.

O sol começa a pegar no breu, são umas 10:30 hs e o calor já se prenuncia.  Esquisito… até outro dias mesmo as manhãs eram polares, agora mal começada a primavera já faz esse braseiro.

Pela primeira vez, ploto o meu GPS para que ele me conduza até Prudentópolis.  Não que seja necessário, mas quero vê-lo funcionar.  Porém não funciona direito.  De quebra, o ciclocomputador (sem fio), que está ao lado dele no guidão, passa a dar informações errôneas.  Percebo que um está afetando o funcionamento do outro.  Desligo o GPS.

Enquanto tal sucede, do lado de fora do veículo vai passando a cidadezinha de Guamiranga.  É realmente um lugar de poucos atrativos, ao menos para se ver da estrada… um posto de gasolina, um hotel, uma rua que sai à esquerda que parece ser a do comércio.

Guamiranga à direita

Guamiranga à direita

Guamiranga à esquerda

Guamiranga à esquerda

Guamiranga à esquerda, rua do comércio

Guamiranga à esquerda, rua do comércio

Não me detenho, a manhã esquenta inda mais.  Busco virar a primeira curva para ver-me ao resguardo de curiosos.  Quero parar para lanchar à sombra.  Mas sombras por vezes são itens raros à beira do asfalto.

Por fim, retomo a marcha e no entanto há algo errado…  é o sol…  está forte demais.  É meio-dia, a estrela está a pino e eu sinto que tamanha radiação não me faz bem.  Mas não paro.  Reduzo o ritmo e continuo pedalando até que minha água escasseia.  Aí já não há como prosseguir.

Um alívio fugaz: ao passar por sobre um rio, desfruto da brisa refrescante…

Faltam poucos quilômetros para a entrada de Prudentópolis, mas acabo fazendo algo que normalmente nunca faço:  paro num estabelecimento à beira da estrada.

Estou derretendo, chego a temer uma insolação ou outro piripaque qualquer.  Preocupa-me o fato de que rodei apenas 40 kms e já estou destruído desse jeito… E se fossem 80?  E se fosse alto verão?  E se…  bem, cuidemos do hoje.

A atendente, solícita, me diz; “pois não?”.  Respondo: “preciso literalmente de sombra e água fresca”.  Ela ri e vai pegar uma garrafa de 1,5L sem gelo, como eu havia pedido.  Gentil, me oferece um copo retirado do congelador.  Uau!  Para o meu gosto está perfeito.  Sorvo aquele fluido revigorante aos borbotões – eis porque não a aprecio gelada.  Sento-me numa mesa sob a varanda do agradável restaurante e logo um chegante me vem perguntar:

– Vem de onde?

– São Paulo.

– Eita, tá longe né?

– Nem tanto, pois é uma tentativa de volta ao mundo…

Chegam outros, o papo segue por aí, mas já é hora de voltar para a fornalh… digo… a estrada.  Mais umas poucas pedaladas, mais uma ou duas fábricas de cerâmica e já estou no trevo de acesso a Prudentópolis, a autodenominada Capital Nacional do Feijão Preto.

Com sofreguidão, dirijo-me ao hotel que a Veralice, providencialmente, descolou.  E se não tivesse hotel?  E se não houvesse onde ficar?  E se fosse no meio do deserto?

Entro, esvazio e amarro a magrela, subo para o quarto.  Nossa, como é bom ficar pelado.  Lavo as roupas no lavabo, enquanto passo sabão de côco na cara para amaciar a barba.  Enxáguo, e estendo as peças, barbeio-me e entro numa ducha fria que prá ser o paraíso só faltava umas anjas nuas em volta.  E se não houvesse esse chuveiro?  E se nem houvesse água?  E se?

RESUMO CICLÍSTICO:

DATA: 01. Outubro. 2011 / Sábado
LOCAL: Prudentópolis, Paraná (Brasil), ALTITUDE: 840m
POUSOS: 12
TEMPO: Dia muito quente. Muita chuva no final do dia.
TEMPERATURA: 15ºC a 30ºC
KMs PEDALADOS HOJE: 47 km (de Imbituva a Prudentópolis)
MÉDIA: 9,6 Km/h
VELOCIDADE MÁXIMA: 55,6 Km/h
HORÁRIOS PARTIDA / CHEGADA: 08:15 hs / 14:00 hs
OCORRÊNCIAS: calor em excesso
TOPOGRAFIA: região montanhosa
CONDIÇÃO FÍSICA: Excelente, embora à beira de uma insolação
DIAS DE ESTRADA: 29
DIAS PARADO (em reportagem, turismo ou descanso): 19
KMs PEDALADOS ACUMULADOS: 682 km
QUILOMETRAGEM TOTAL PERCORRIDA (inclui ar + mar): 682 km

\\ comentários

  1. Bebel

    Oi primo. Hj to aqui na minha mae Maria. Lemos juntas o seu diario, que sufoco hein!? Que droga ter perdido as fotos!!! Todas q vc postou ate agora são lindas demais. A Tata está c saudades e manda um bj. Ve se descansa, afinal o tempo é todo seu, não nos prive desta aventura maravilhosa. Já estamos todos viciados!!! Deus abençoe. Bjok.

    • Elcio

      Minha mãe não, Bebel: nossa. Que tenho três: a Tonheta, a Tata e a Ângela. Manda outro prá ela. bjk procê

  2. Bebel

    Ahah… fui a primeira!!!!

  3. Edson Zeca da Silva

    “Fica a sugestão para que as biciletas do futuro tenham, além da basuca, uma câmera acoplada.”
    O cara escreve maravilhosamente bem e ainda por cima tem um senso de humor refinadíssimo.
    Delcy Thenório deve estar pensando :
    – Acho que fui feliz ao educar os meninos…
    ( pra quem não sabe, comentaristas de plantão, Delcy é o pai do Elcio, um gênio da palavra, poeta com livro publicado e o escambau )

    • Elcio

      Zéca, fico pensando o que o Thenorio deve estar achando dessa aventura… se ainda estivesse por aqui, duvido que visse com bons olhos – ao menos não a princípio. Agora pode ser que já estivesse mais conformado =)

  4. Veralice

    Elcio oiii!!
    Que bonita a cidade de Prudentópolis! Gostei das fotos!
    Pedalar sob o sol escaldante não é mesmo fácil, talvez nesses dias ensolarados pudesse sair mais cedo da cidade, aproveitando mais a manhã 🙂
    Fica com Deus e aguardando os posts que vêem por aí!
    Beijo!

    • Elcio

      É, Vera. Mas é complicado acordar cedo demais (antes das 7)… e de qq maneira, teria de enfrentar o sol do meio-dia, que é o pior. Valeu, bj

  5. ilza

    Elcio,como vc tbém perdi minhas fotos no Picasa.Entra na internet e pesquise e baixe o software“RECUVA´´,pois consegui recuperar as minhas.Tô adorando acompanhar sua aventura,semana que vem estarei em Piedade e vou visitar zilinha e dédo…beijo ilza

    • Elcio

      Grande Ilza. Enquanto escrevo, já tô RECUVANDO o meu cartão SD com uma baita esperança de que dê certo (demora pacas). De qq maneira, valeu mesmo. Obrigadíssimo. Bj

  6. Nivaldo Pereira

    Meu caro Elcio,
    aproveite as cachoeiras de Prudentópolis, mas seja prudente com o sol.

    Abraços e boa caminhada.

    Estamos aqui fazendo a nossa parte.

  7. Edélcio - Dédo

    Assisti àquela reportagem do Atacama e, devo dizer, durante aquela hora pensei muito em você. Atacama, aguarde-nos. Destruí-lo-emos.

    • Elcio

      Heheh… isso é o que ve-lo-emos, Dédo. Mas há boas chances, ainda que sem os fartos recursos da TV Globo.

  8. juliano

    tomara que vc consiga conhece as maravilhas ai de prud.
    ah e nao deixa de comer as gostosuras daí tbem…

    • Elcio

      Cara, tenho visto muitas gostosuras por aqui… =) hoje fomos à cachoeira Barão do Rio Branco, muito linda. abração

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