\\ Blog diário de bordo

4 Oct 2011

ÁGUA MORRO ABAIXO E BIKE SERRA ACIMA

Antes de mais nada, gostaria de esclarecer que o blog do Projeto Rodas Livres continua positivo, operante e continuamente atualizado. Se vários dos assinantes deixaram de receber os avisos diários, isso se deve a uma sabotagem feita pelo Gmail, que devido à grande quantidade passou a considerar os avisos como spam. Isso está já sendo objeto de estudos na busca de uma solução, com a inestimável contribuição do meu sobrinho Cauê, e em breve deveremos achar uma maneira de contornar o problema. Não deixa de ser irônico… quando mais nos esforçamos para ampliar a audiência, eis que o provedor passa a trabalhar pelo boicote.

Mas vamos ao que interessa: sobrevivi à serra Esperança e agora teclo de uma lan-house em Guarapuava localizada ao lado de um cinema. Uau! Cinema!! Começava a esquecer que isso existia. Logo eu, que morava ao lado de uns dez.

Saí de Prudentópolis mais cedo do que de costume, quando os relógios marcavam 07:45 hs. Havia dormido mal, após acordar de madrugada com uma recorrente crise de gastrite, que tratei de apaziguar mascando um comprimido de Maalox. Até Guarapuava não foram 83 quilômetros, como esperava, mas 63. Acho que vi errado no Google Maps. E a serra parece mais difícil na representação gráfica do que na inclinação real. No entanto foi um dia em que subi muito na vida… uns 400m.  A altitude máxima atingida foram 1217m.

Para alcançar a rodovia já foi uma rampa quilométrica, mas isso era apenas o aquecimento. Lá em cima, o esperado: cerca de 17 km antes de topar com 7 de subida de serra. O dia estava favorável, com o sol devidamente escondido detrás de um espesso manto de nuvens que cobria todo o céu. Após alguns milhares de pedaladas, tive a primeira visão do desafio que me aguardava…

Imaginei-me em Santos, tendo de voltar de bike para São Paulo. Nisso já se avizinhava uma praça de pedágio, última ponto de interesse antes de iniciar a ascenção.

A princípio tive um susto, pois bem no início da subida terminava o acostamento. E para complicar, neste trecho os olho-de-gato estavam afixados bem sobre a faixa branca (às vezes, inteligentemente, eles ficam deslocados à direita…).

Pensei… nossa… subir a serra inteira com as jamantas tirando finas do guidão vai ser complicado. Mas a apreensão mostrou-se desnecessária, pois bastava olhar para a pista oposta para constatar que ali havia acostamento. Mudei de pista.

Um pouco à frente, uma carreta tombada e uma equipe de Emergência Ambiental. Tive ganas de fazer uma materiazinha… perguntar no que consistia o tralhalho de uma equipe como aquela, coisa e tal. Mas os poucos caras estavam tão assoberbados nos afazeres que desisti do intento. Como diria Paulinho da Viola: “ninguém compreenderia um samba naquela hora”.

E lá ia eu serra acima, zunindo pela estrada à espantadora velocidade de 4 km/h com vertiginosos picos de 4,5. Os joelhos quentes, as coxas doendo, mas a mente procurando manter tudo sob controle. Só era complicado o fato de que os abruptos e descomunais deslocamentos de ar provocados pelos caminhões, que normalmente dão uma mãozinha, agora vinham no sentido inverso, batiam em cheio no peito e freavam o avanço da bicicleta.

Também incomodava a segunda marcha, a melhor para a maior parte do trecho, escapar a toda hora. Mas nada que comprometesse a empreitada.

Um ponto positivo do dia foi, creio, ter resolvido de vez o problema das dores na têmpora esquerda, causadas pela agressão do ar nas narinas. Agora, nos trechos em declive, quando o vento esfria e acelera, chegando a picos de mais de 40 km/h, respiro pela boca. Hoje, valendo-me desta técnica, pela primeira vez passei o dia todo com a dor de cabeça apenas ameaçando, nunca se instalando. Ufa! Esse estava sendo um problema sério.

Às 11:00 hs parei num mirante, já bem alto na serra para o almoço. Olhei ao longe, muito longe, e pensei… que grande país.

Sentei-me para lanchar, mas lá em cima o frio não me permitia relaxar. Ao invés de agasalhar-me, preferi comer logo e voltar à pedalagem. Antes de partir olhei para baixo e atentei para um minúsculo trecho da estrada que era visível entre as copas das árvores. Puxa! Como se sobe depressa.

Pela primeira vez, botei o GPS prá funcionar. Desta feita, funcionou que foi uma beleza. Ploteio-o com o endereço do hotel e ele me deixou na porta. Antes de alcançá-lo, porém, tive de encarar vários quilômetros de uma estrada secundária com um péssimo asfaltamento. Queria chegar, mas se tentasse correr a magrela mais parecia uma cabrita, de tanto que pulava.

Por fim, encostei no glorioso Hotel Libra, magistralmente descolado pela Veralice junto à Secretaria Municipal de Turismo de Guarapuava. Guardei a bike dentro do quarto 111 e parti para a lavagem de roupas no lavatório. Em breve, após uma ducha reconfortante, já saía em busca da redação do jornal Diário de Guarapuava, onde concederia uma entrevista.

Antes, porém, parei na movimentadíssima Panificadora Royale, para uma vitamina com pão de batata, e percebi que uma segunda padaria que servisse buffet de café da tarde seria muito bem-vinda por aqui. Fica a dica aos empreendedores interessados…

Pof fim, marquei pelo telefone uma entrevista amanhã pela manhã para a Rádio Cacique e depois o pessoal da prefeitura quer que eu lhes faça uma visita. Vejamos o que consigo nesta terra em termos de pauta para uma reportagem…

Em tempo, gostaria de pedir um apoio aos meus queridos co-aventureiros porque necessitamos de créditos no Skype para que a Veralice possa continuar desempenhando sua valiosíssima tarefa voluntária de produzir alojamentos e refeições para este repórter. Graças a ela e à sua exemplar eficiência, todos temos podido viajar por estas estradas como temos feito ultimamente… mas interurbanos têm custo…

Assim, solicito qualquer contribuição para que possamos abastecê-la de créditos virtuais e dar prosseguimento a esta aventura que tem se mostrado tão saudável e produtiva – graças, sobretudo, ao fato de contar com o prestígio de tão seletos leitores.

 

RESUMO CICLÍSTICO:

DATA: 04. Outubro. 2011 / Terça-feira
LOCAL: Guarapuava, Paraná (Brasil), ALTITUDE: 1098m
POUSOS: 13
TEMPO: Dia nublado pela manhã e sol ameno à tarde. Sem chuva
TEMPERATURA: 8ºC a 23ºC
KMs PEDALADOS HOJE: 63 km  (Prudentópolis a Guarapuava)
MÉDIA: 9,0 km/h
VELOCIDADE MÁXIMA: 62,7 km/h
HORÁRIOS PARTIDA / CHEGADA: 07:45 hs / 15:00 hs
OCORRÊNCIAS: nada
TOPOGRAFIA: uma serra a subir no meio do caminho
CONDIÇÃO FÍSICA: Excelente, malgrado a gastrite
DIAS DE ESTRADA: 32
DIAS PARADO (em reportagem, turismo ou descanso): 21
KMs PEDALADOS ACUMULADOS: 748 km
QUILOMETRAGEM TOTAL PERCORRIDA (inclui ar + mar): 748 km

\\ comentários

  1. Alexandre

    Élcio ,
    Olha eu aí novamente , estou anexando um vídeo pessoal para vc ir se acostumando com os desafios que te aguardam …
    Um abraço
    Alexandre
    Vitória-ES
    http://www.youtube.com/watch?v=QR00-XmnIdU

    • Elcio

      Cara, será que eu li direito no termômetro? Qual foi a temperatura mínima que vc pegou lá?

      • Alexandre

        -6,2 graus foi quando resolvi abrir a barraca(5:30 h) , acredito que durante a madrugada a temperatura deve ter chegado a uns -9º graus …

        • Elcio

          Eita… meu saco de dormir vai até –3 (conforto) e -7 (extrema). Além disso tenho um “lençol-saco-de-dormir” feito de um tecido técnico que, afirmam, aumenta em 7º a tolerância. Então, até -14º devo sobrevivier. Mas se passar disso, ainda conto com aquele saco de dormir de emergência, aluminizado, que resolve mesmo. Mas nada disso é gostoso não. Não tem um hotelzinho por lá? =) Abração

  2. zeca

    Olá amigo Ciclo-Pilgrim; pensei seriamente que voce havia me esquecido. Quanto ao problema de frialdade resultante do vento que voce corta em maiores velocidades, muito embora possa ser um trambolho e -em parte- comprometa a acuidade visual, não sería adequado o uso de um capacete do tipo motociclista, ou algo do gênero que lhe abarcasse toda a face,protegendo-o mais? Um abraço.

    • Elcio

      Não deixa de ser uma idéia, Zéca. Mas até o lenço ou a máscara já me incomodam bastante… um capacete fechado então…. mas aos poucos estou encontrando formas de contornar o problema. Abração PS.: Não o esquedci não. Tivemos problemas com os envios…

  3. fabricio

    poxa elcio vindo de vc e elogio quero ser um vencedor como vc continue firme nessa viagem muitos lugares lindos virao que deus te abençoe e te acompanhe amigo

    • Elcio

      Vencedor, nada, Fabrício… ralador isso sim hehe. Todos temos nosso valor, camarada. Você pedala 1000 vezes mais que eu, por exemplo. Abração

  4. Edson Zeca da Silva

    “Ninguém compreenderia um samba naquela hora …”
    O cara é fóda.
    Muito pouca gente escreve bem assim.
    Abração diário, Arabal.

  5. Elói Barboza Neto

    Engraçado: Qdo vi a foto com a bandeira fincada me veio a mesma sensação: que Brasilzão! DICA: os mototaxis se proliferaram por este interiorzão afora, na ausência de apoio, é possível oferecer R$ 30 por uma diária assim a sua mobilidade aumenta. Acabei de ver uma reportagem do Salão Duas Rodas que anunciam uma bike eletrica com autonomia de 84km…Salve o seu esforço!

    • Elcio

      É Elói… bike elétrica já tá no meio do caminho pruma motinho de 50 cc… vamos continuar só no pedal, até onde Deus quiser. Abração

  6. Veralice

    Elcio oiii!!!

    Nossa seus caminhos te dão um presente a parte, a vista é linda, apesar das subidas, o bom é chegar lá em cima e poder deslumbrar a paisagem!
    Guarapuava tem um terminal de ônibus com traços modernos, tendência das cidades né… viva a modernidade! Lindas fotos, feliz de que tenha chegado bem… a fronteira se aproxima! Beijo e fica com Deus! 🙂

    • Elcio

      Brrrr…. frontera és fueda, como dicen los hermanos paraguayos… vamos ver o que nos aguarda “do lado de lá”… bjão Vera

  7. Flavio Thenorio

    Caracas Tio… o Video do alexandre sobre a travessia dele pelo deserto de Atacama é mto bom! É bom pegar várias dicas com ele pois aparentemente não é nada fácil atravessa-lo! As fotos e a narração estão cada vez melhor. Essa foto que vc colocou a camera no chão disse tudo! Continue firme na caminhada Tio, estamos aqui torcendo mto por vc!!

    • Elcio

      O Alexandre tá tentando me meter medo. Dessa vez ele quase conseguiu… hehe (brincadeira). Abração, Frau Tio

  8. Edélcio - Dédo

    Essa não é a região onde os descendentes de ucranianos fazem pinturas fantásticas em cascas de ovos?

    • Elcio

      Dédão, suponho que sim. De fato, a colonização é ucraniana. Não cheguei a ver tais pinturas, empenhado que estou em descobrir pautas ambientais ou ecoturísticas. Aliás, tem sido duro descartar assuntos artísticos, culturais etc. Mas tenho de impor limites, senão perco o foco. Abração Arabal

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