\\ Blog diário de bordo

29 Oct 2011

A VÉSPERA DO DESAFIO

Ontem à noite, ao ser deixado de volta pelo Delmar no Hotel Nayru, fiquei umas 3 horas no computador gratuito da recepção (adoro quando há um), redigindo o post, postando-o e à reportagem, tomei uma ducha revitalizante e, após um relax assistindo ao Nat Geo, sai quando já eram umas 21:30 hs para o jantar no Funitchiello, em sua maravilhosa localização defronte ao lago.

Jantei um saboroso fusilli com vários acompanhamentos (alguns até ligeiramente conflitantes, como passas e alho – mas fui eu quem pediu) e fui bater pernas em torno ao lago, que estava cheio de gente e vida.

Um local deveras agradável, que até há poucos anos não passava de um charco. O lago foi criado artificilamente bem como o bosque que o ladeia, o qual à primeira vista ninguém supõe não ser natural… Sentei-me num banco às portas do aquário municipal enquanto agruardava meu SPOT rastrear 3 satélites, localizar-se e a eles transmitir minha exata posição. Assim que o processo é concluído (e sou avisado através de um bip em meu celular), essa informação torna-se imediatamente disponível na página do projeto no Facebook.  Basta clicar e o mapa com a localização se abrirá… parece mágica, mas são só os novos tempos…

De volta ao hotel, entre internet e TV a cabo fui dormir quando os relógios já marcavam 02:30 hs. Afinal, para que pressa? Pela manhã, às 08:30 hs já me ligava o Delmar… “tá pronto prá gente rodar por aí?”. Uau… tava não. Mas uma vez acordado, Carpe Diem. Combinamos de ele passar dentro de uma hora. Mal desliguei e me liga o Chico Paulista, também convidando-me para girar a cidade. Como já estava acertado com o Delmar, marcamos algo para o período da tarde. Ao finalizarmos a conversa ele me disse: “Já viu o Jornal do Oeste de hoje? Você está na capa”. Eita… fui sério a vida inteira e nunca aconteceu nada, agora que despiroquei de vez tô ficando famoso. Vai entender.

Após o café, saí portanto com o Delmar. Passamos numa loja de embalagens porque eu queria comprar sacos de lixo 100L e fita-adesiva-de-fechar-caixas para proteger da chuva o equipamento que viaja no bagageiro (barraca, saco-de-dormir, colchão inflável e manta isolante). Isso feito partimos para a zona rural, onde iríamos realizar algumas reportagens.

Já pelas estradas do mato, olhava para o céu… pesado, prometendo chuva grossa para qualquer momento.

Pela previsão haveria temporais hoje, amanhã e depois. E então chegamos a uma fazenda na qual o proprietário pretende implantar um sistema de geração de energia auto-sustentável, a partir de biodigestores alimentados pelos dejetos do rebanho.

Em seguida, fomos visitar os domínios da Vinícola Dezem, onde pude gravar uma matéria sobre ecoturismo.

Muito legal o clima de uma vinícola, com suas sombrias instalações subterrâneas. É a segunda vez que visito uma, tendo sido a primeira em 2001 numa quinta em Viseu, Portugal.

Ao sairmos, fiz uma foto da simpática carroça que decora a entrada…

… mas fui praticamente expulso do gramado por um indignado papai quero-quero, cioso da proteção de sua prole.

De volta à zona urbana, fui levado pelo Delmar a conhecer o pequeno porém charmoso aquário municipal.

Como tudo em Toledo, muito bem cuidado…

Assim, após admirar as sublimes formas de pacus e surubins, despedi-me de meu prestativo amigo e retornei ao hotel. Foi então que, uma vez mais prostrado defronte à TV, tive o privilégio de assistir a um dos mais primorosos documentários que já vi. Sintonizava o Discovery Channel quando, narrado por Milton Nascimento, iniciou-se uma explicação de que a evolução do homem deu-se nas savanas. A produção – da BBC – mostrava vários episódios ilustrativos, dentre eles os agricultores da Tanzânia sendo assolados por nuvens com milhões de pardais-de-bico-vermelho, cavaleiros da Mongólia perseguindo éguas para laçá-las e extrair-lhes o leite, fazendeiros da Austrália tocando 2000 bovinos com 2 helicópteros, dentre outros. Mas o que me marcou, aquele que impressionou-me a memória de forma indelével foi o seguinte:

Três homens do sul do Quênia, negros e esquálidos, por camisa cobertores e levando sandálias nos pés, munidos de toscos arcos e flexas que no caso de um ataque de nada lhes serviriam, espreitam um bando de 15 leões a devorar um gnu recém abatido. A distância é escassa, coisa de 30m. De súbito, a uma ordem do chefe, os três se levantam e avançam resolutos em direção aos animais. Os leões, surpreendidos, focinhos vermelhos de sangue gotejante, interrompem o banquete e por um segundo parecem não saber o que fazer… até que uma leoa volta-se e afasta-se correndo. Os demais a seguem. Os homens chegam à presa e, lépidos, cortam-lhe um quarto traseiro. Isso feito, retiram-se calmamente sob o olhar dos Reis da Selva que, aos poucos, aparentemente um tanto perplexos, retornam para o que lhes restou da carcaça.

Incrível, inacreditável, que coragem! Uma das façanhas mais espantosas que já vi em meio século de existência. O documentário, chamado Human Planet, foi produzido pela BBC sob a direção de um doravante honorável Tuppence Stone.

E lá fora, o temporal rugia…

… pensei em colocar minha escandalosa capa amarela e sob o aguaceiro ir almoçar. Assim, calcei minhas havaianas assassinas e – antes – fui checar se o teto sob a qual minha bicicleta estava travada a havia protegido da água. Doce ilusão… tudo ensopado. E eu que queria amanhã pedalar sob chuva conseguindo pela primeira vez manter-me seco e ao equipamento, já estava em séria desvantagem . Preocupei-me sobretudo porque em minha próxima parada, Santa Helena, talvez tenha de inaugurar minha barraca. Mas como adormecer num saco-de-dormir ensopado?

Saí para a rua em direção ao restaurante confesso que um tanto cabreiro.

Ao chegar ao lago constatei que o Funitchiello já fechara, e então fui ao Shopping Panambi, que jaz ao lado, na margem à direita.

Lá chegando, constatei que a queda de energia obrigara todos os estabelecimentos a baixar as portas. Essa não! Tenho fome, é tarde e não há onde comer. Por muita sorte, o atendente de um dos estabelecimentos em vias de também fechar, o Clairton, compadeceu-se de minha situação e prontificou-se a fazer sair ainda um filé com legumes. Que maravilha… com um chopinho, então, tanto melhor.

Registro aqui, portanto, meu muito obrigado ao Clairton e ao Família Jhony’s Choperia e restaurante. Como já não fosse suficiente a cortesia, ainda não me foi cobrado o almoço em uma simpática colaboração ao Projeto Rodas Livres.

Dali restava-me apenas, naquela tarde molhada, fazer umas fotos do lago, já que por um momento estiara…

E ir à captura de algum café expresso pela cidade, o que me conduziu à velha Estação Rodoviária. Vazia de ônibus, diga-se.

Bem como vazia estava a cidade, quando grossos pingos recomeçavam a surgir

Retornando ao Nayru, questionei o Silvanei, o atendente da recepção, se por acaso não havia no hotel uma sala da caldeira, ou coisa parecida, onde pudesse estender meu equipamento para secar. Por muita sorte, havia e estava aconchegantemente quentinha… Despudorado, armei ali o maior circo tendo, inclusive, aberto a barraca…

Quando secos, embalá-los-ei de forma hermética nos sacos plásticos, visando assim não ter de estendê-los novamente quando chegar ao destino. Espero que desta vez funcione.

Amanhã será o grande desafio: de Toledo a Santa Helena serão 84 kms debaixo de chuva grossa, segundo todas as previsões, tendo no caminho uma serra por vencer. Ainda convalesço do tombo sofrido em Cascavel… portanto, juntando tudo, penso que não será fácil. Mas, afinal, quem disse que a vida é fácil?

 

RESUMO CICLÍSTICO:

DATA: 29. Outubro. 2011 / Sábado
LOCAL: Toledo, Paraná (Brasil), ALTITUDE: 550m
POUSOS: 17
TEMPO: Sol fraco pela manhã, temporais o restante do dia.
TEMPERATURA: 18ºC a 29ºC
KMs PEDALADOS HOJE: 0 km
MÉDIA: –
VELOCIDADE MÁXIMA: –
HORÁRIOS PARTIDA / CHEGADA: – / –
OCORRÊNCIAS: nada
TOPOGRAFIA: serras
CONDIÇÃO FÍSICA: Boa
DIAS DE ESTRADA: 57
DIAS PARADO (em reportagem, turismo ou descanso): 43
KMs PEDALADOS ACUMULADOS: 1.073 km
QUILOMETRAGEM TOTAL PERCORRIDA (inclui ar + mar): 1.073 km

\\ comentários

  1. Prof. Ivo José Triches - do Grupo Itecne

    Élcio, vc de fato está em uma linda cidade. Toledo é exemplo para muitas cidades de nosso país. Limpa e bem organizada. Um lugar muito bom para se viver. Força em sua caminhada.

  2. Vânia Müetzemberg

    Elcio, Toledo, assim como Cascavel, Foz e Sta. Helena, sofreram bastante com o temporal de hoje…vi na Tv que aí em Toledo teve até inundação…prova de que nem tudo são flores né…infelizmente. Então, porque não segue para Sta. Helena só na segunda, se precisar ainda tem aquela possibilidade de conseguir a cortesia no Hotel Rosas com o Marcos, aí talvez não precise inaugurar a barraca, já que fica mais fácil fazer contatos para apoio em Sta. Helena na segunda. Não seja mais maluco do que já é rsrsrs…lembre que ainda tá sarando de um acidente sério.

    • Elcio

      Vania, sao 06:30 da manha do domingo e soh estou vendo este.email agora. Agradeco muito sua atencao, mas o domingo eh um excelente dia para se pedalar apesar da chuva. Quanto a acomodacao em SH, chegando la veremos o q da pra fazer… Bjao e obrigado elcio

  3. Eliana Secco Vergos

    Oi primo!!! Aqui também o tempo está meio chuvoso.Acho que a Vania tem razão em relação a possibilidade de voce sair na segunda-feira,fica ai a dica .Esse lago é realmente maravilhoso,também adorei a vinícula,pois,sou chegada em um bom vinho heheh…uma graça os peixinhos do aquário e realmente Toledo é uma cidade muito limpa e organizada.Bem agora vou ver a nova reportagem que voce postou. Um beijo grande lindo e um ótimo domingo pra voce viu !!!!!

  4. Andréa Lopes

    Já molhou, já estendeu, já secou…uma hora vc vai ter que armar essa barraca! rs
    Boa sorte meu amigo.

  5. Veralice

    Elcio oiiii!!
    Nossa, é mesmo impressionante essa cidade, quantas coisas interessantes, tudo arrumadinho, limpinho.. bonito de ver… adoro isso!!!
    O Sec. Delmar deve sentir-se orgulhoso em mostrar esses lugares e você recompensado… Quando administradores de uma cidade levam à sério o cargo que ocupam, só pode trazer bons resultados!
    Nosso muito obrigado a todos de Toledo pela hospitalidade e de Cascavel que também ajudaram nessa produção!
    Beijo e siga em frente 🙂

  6. vitorio

    Elcio querido, esse negócio de vc não querer armar a barraca tá pegando mal, lembro que no dia 3 de Setembro próximo passado, na aporazível Praça da Sé, em São Paulo Capital, vc foi agraciado com um pacote de 150 unidades de algo que poderia ser util quando a barraca estivesse armanda, por que relutas oh amigão?
    Vimos pela TV que o temporal foi fodinha nessa região, se te pega na estrada o problema não é só as águas mas as descargas elétricas a que vc estará exposto em campo aberto, se informa sobre o assunto e TOMA MUITO CUIDADO COM ISSO, diferenças de potencial são fatais, ou seja se um pé aterra num lugar e outro em outro diferente vc vira condutor, e prá isso basta a humidade envolta em seu lindo corpitxo… cuidado para que teu projeto não se torne
    raios livres e não recebamos um torresmo de volta. Bjs.

    • Elcio

      É… pois ontem na estrada, dentre um monte de galhos e frutas caídos havia um cabo de força proveniente de um poste. Em plena chuva, passei com as rodas por cima, mas confesso que com o cú na mão. Como é possível constatar (a menos que isso aqui seja uma psico-datilografia), não morri.

  7. vitorio

    Toledo realmente mostra uma surpresa atrás da outra, incrivel essa cidade. A foto da carroça é muito bonita e quero-quero é um bicho muito filho da puta mesmo, vc deveria ter atirado uma pedra neles…
    Acho que esse negócio de projeto para dar a volta ao mundo é uma boa, os caras cozinham sem energia e servem chopp com o estabelecimento já fechado e ainda não cobram nada por isso, o outro deixa vc praticamente estuprar a lanvanderia dele e ainda fica feliz, pessoas disputam sua companhia para fazer belos pessaeios com tudo pago, vc divide a capa dos jornais com as famílias que limpam tumulos ( porra anda fraca a pauta por ai ), aqui em São Paulo a gente paga até pelo que não usa, compra e não leva. Vc se importaria se a gente criace um Projeto Rodas Livres 2 – A Rabeira, para tirar uma lasquinha disso tudo. Aguardo ancioso a sua aprovação. Bjs.

  8. vitorio

    Achei incrivel a história dos 3 caçadores que não caçam só espantam e se apropriam do trabalho dos leões, os caras devem ser feios prá burro prá espantar um cardume de leões. Eles poderiam estar robano, estrupano ou matano, mas estão alí apenas saqueano o pobre Gnu.
    Mas eu gostaria de ver a cena porque achei seu relato assas e deveras impressionante, dileto amigo. Bjs.

  9. Ronaldo Negro

    Elcio, novamente parabenizo pelas belas fotos e também para elogiar a cidade de Toledo, tudo muito bonito e conservado!
    Grande Abraço!

  10. Edson Zeca da Silva

    Arabal, nem o autor do teu codinome sabe explicar o porquê dele. Mas acho legal, Arabal.
    Olha só que trecho literário belíssimo:
    ” Eita…fui sério a vida inteira e nunca aconteceu nada, agora que despiroquei de vez tô ficando famoso. Vai entender.”
    Lindo, Elcio, lindo. E quem foi que disse que voce despirocou ?
    Pouca gente trabalha com sua seriedade, seu talento.
    Amplexo, parceiro.
    Zeca

    • Elcio

      Pô, valeu Zéca. Agradeço mesmo sua opinião… É fácil eu entrar em dúvida se o que estou fazendo está mesmo certo. Abração

  11. Veralice

    Vitorio, se você postar mais alguma coisa nesse nível, vai me dar cãimbras no maxilar de rir… ohh meu Deus!!! rsss

    A propósito do documentário, também assisti e achei os índios caras de pau, depois mostrou um trecho deles conversando e tirando uma com a cara dos leões… hahahaha

    Bju e bom domingo! 🙂

  12. tony

    Vc vai acabar gostando de pedalar na chuva antes da volta ao mundo acabar, pode crer.
    Agora o Vitorio é brincadeira… tbm já tem fä hahahaha! Galocha no pedal e vamo que vamo. Abraco

    • Elcio

      Galocha no pedal e sacos plásticos entre a meia e o tênis. Gostar não vou não, mas a gente se acostuma…

  13. Enzo Mauro Ballarini

    Agabau, véi de guerra, de havaianas na chuva desafiando a lei da gravidade? Acho melhor vc comprar cuecas com air bags! rsrsrsrs
    ósculos aos gêmeos

  14. juracir h caixeta

    Ta tudo certo Thenorio,menos as havaianas assassinas,manda para a reciclagem urgente.Há muitas marcas de chinelos no mercado com sola anti derrapante e muitos mais confortaveis que as tais.
    Abraço.

    • Elcio

      Pois é… já deveria ter feito isso. É que ultimamente a palavra “comprar” ainda proibida por aqui…

  15. juracir h caixeta

    Atenção Veralice, mobiliza todo mundo pra uma vaquinha, nosso amigo Forest Gamp de bike, necessita chinelo novo urgente.
    Corra Forest, corra.
    Pedala Elcio, pedala.
    Meu humor melhorou.
    Valeu Thenorinho.

    • Elcio

      É mesmo. Só gosto dessas sandálias porque foram um presente da Claudinha. Mas, por segurança da minha integridade física, trocá-las urge.

  16. juracir h caixeta

    Me vejo na obrigação de voltar, agora com falando profissionalmente, pois trabalho em uma empresa de engenharia elétrica de alta tensão, linhas de transmissão de até 138000 volts,subestação com transformador de 345000 volts, cuido da segurança dos outros e da minha é claro.
    Nunca, jamais passe sobre cabos que estiverem no chão se eles estiverem energizados pode ser fatal,e se encontrar torres de linha caidas, o que pode acontecer após vendavais, passe o mais longe possivel, seus cabos podem estar energizados ou com indução, seu próprio corpo e o metal que voçê carrega,são condutores e podem formar a outra ponta do arco voltaico,voçê não tem roupa anti chama e esta combinação, é trágica.Fique tranquilo, isto não acontece todo dia, agora se acontecer não menospreze o risco
    A viagem segue.

  17. juracir h caixeta

    A borracha do pneu não é isolante e o metal(condutor) da roda e do aro, estão muito perto.

  18. juracir h caixeta

    Se for possivel,fala mais da Claudinha, curto demais esse nome.Na sua despedida no Bar Canto Madalena, quase a levei, mais perdi para a faculdade, agora ja era.

  19. juracir h caixeta

    E eu de outra,Elcio.

  20. Camargo Filho

    Continue atento às vozes que querem ser ouvidas e relate tudo de maneira natural, assim, dessa forma, seremos todos ouvidos.
    Um abraço e boa sorte!

    • Elcio

      Microfones abertos, Camargo. Democracia vocal aqui. Aliás, tá em moda a campanha “Paz sem Voz é Medo!” Concordo.

\\ Translator


  • \\ Newsletter

  • \\ Onde estou?

    \\ Patrocínio

    • Travel Ace Assistance
    • Kertzman

    \\ Apoio

    • Biene
    • Vinil
    • Puzzle Filmes
    • Milena Rodrigues
    • Loc7
    • Souza Campus
    • Atelier Gourmand
    • ACM
    • Ararauna

    \\ Twitter