VAI DAR PARA MERGULHAR
Ontem fomos jantar no Funitchiello. Tive por companhia o Delmar, sua companheira, Ana Paula, e sua filha Bábara.
Chovia ainda após um dilúvio que assolou a região, tendo feito o estrago que os dilúvios costumeiramente fazem…
De volta ao hotel, pus-me a empacotar com sacos de lixo impermeáveis todas as peças do equipamento que viajariam na garupa da bicicleta na manhã seguinte, pois a previsão era de mais chuva.
06:30 hs da manhã, acordo e ao olhar pela janela, escuro ainda, fico em dúvida… não chove… então devo por toda a minha roupa de chuva ou visto-me de forma mais leve? O problema é que uma vez na estrada não há como comutar facilmente de uma para outra. Portanto, melhor escolher acertadamente. Decido paramentar-me para a chuva. E é assim, todo empacotado, que desço para o café e para montar a carga na bicicleta. Foram quase duas horas de preparativos. Para mim é muito, mas para meu amigo Arthur Simões, que deu a volta ao mundo em sua bike, duas horas é o tempo normal desde o despertar até o sair pedalando.
Assim, são 08:30 hs da manhã quando, munido de meus óculos amarelos que me foram trazidos do Paraguai pelo Peter, parto de Toledo em direção a Santa Helena, um percurso de 84 kms previstos. A lente amarela tem a particularidade de iluminar o dia, tornando-o mais alegre do que ele realmente está.
Gosto disso. E também gosto de pedalar aos domingos, muito mais do que ficar perdido nas cidades vazias. Poucas pedaladas e já estou em pleno Brasil rural. É outro mundo…
Aliás, Brasil agro-industrial, porque nessa região a força do campo é grande.
Ainda não chove mas… eis que surgem os primeiros pingos. Paro num ponto de ônibus para colocar por cima de tudo a minha esvoaçante capa amarela. Estou com todos os itens para chuva e decidido a não me molhar por pior que venha o temporal.
Só estão me faltando as bananas… não tive tempo de comprá-las e isso me preocupa. São o meu combustível.
Assim, após 20 quilômetros entro na pequena cidade de Ouro Verde do Oeste em busca da fruta. Chove. Na rua principal, encontro uma mercearia e invado-a como a invadiria um extra-terrestre. Ao pagá-las no caixa, o dono simpatiza com a história e me dá de presente uma bolsinha para conter moedas e uma garrafa de água mineral. Prometo incluir o nome de seu estabelecimento nos agradecimentos do site. E saio para a rua, onde nas calçadas defronte aos vários bares, dezenas de pessoas sentadas saúdam-me, acenam e comentam… E eu vou de b’dia à esquerda, b’dia à direita. Com minha bicicleta reclinada e ainda meus óculos e capa amarelos, absolutamente não há como passar despercebido. Volto à estrada e paro para almoçar sob uma árvore, na falta de melhor abrigo.
Toca o telefone, é a Veralice. Foi sorte, nunca o ouço quando estou pedalando. Ela me diz que já descolou refeições em cortesia para mim em Santa Helena, mas ainda não alojamento. Não tem problema, pretendo inaugurar minha barraca num camping que sei haver na cidade. Até agrada-me a idéia… Quando numa descida tento checar a velocidade, constato que meu ciclocomputador pirou. Não está marcando porra nenhuma e terei de seguir às cegas de informações. Prossigo.
Ao chegar ao povoado de Luz Marina ouço um garoto gritando aos que estão dentro da casa: “ Olha! Olha! É o cara de Toledo que passou na televisão”. Não sou de Toledo, mas tampouco vou parar para corrigi-lo. Avanço em direção às grandes subidas que terei de escalar antes de atingir a próxima cidade, São José das Palmeiras. Subo-as pedalando.
Em São José, novamente ouço gritarem… desta vez a voz vem da caçamba de um basculante onde uns 5 operários estão instalados. Ouço: “Vai trabalhar, vagabundo!”. E penso: “Pô, mas hoje é domingo”. E continuo meu caminho entre acenos, abanos, e mais b’tardes à esquerda e à direita. O povo ri à minha passagem, a bicicleta é estranha demais para os padrões locais. Ao sair da cidadezinha atento para um potencial problema no veículo: vaza graxa do cubo do pedivela…
como não manjo nicas de piribitibas de bicicletaria, preocupo-me. Será grave, doutor? Não tenho ali quem me responda, mas fico no aguardo ansioso do parecer de algum leitor mais esclarecido.
Após muito pedalar, quando estou ainda a cerca de 30 kms de Santa Helena, vencendo a enésima subida olho à direita e, enfim, vejo água. Água que depreendo ser do Lago de Itaipú.
Paro para fotografá-la e à minha frente para uma moto. O rapaz desce e vem em minha direção? Suspense na minha cabeça… mas ele logo se identifica como repórter de um jornal local e pede para bater uma foto. Seu nome é Fábio da Silva e o jornal é o Correio do Lago.
Mais uns 10 kms, quando já serão umas 16:30 hs revejo a água. Fotografo-a novamente.
A outra margem será o Paraguai? O Projeto Rodas Livres enfim atingiu a beira do território brasileiro? Ou será apenas a outra margem de algum braço do lago, ainda no Brasil? Não sei nem tenho como saber ali a resposta… Mas animo-me como se fosse e parabenizo-me por este marco.
Às 18:00 hs, enfim, chego a Santa Helena.
Foi uma longa porém tranquila pedalada. Justo quando entro nos limites da cidade toca o telefone. É o Delmar, dizendo-me para entrar em contato com uma senhora de nome Edra, que me arranjará uma diária de cortesia num hotel. Desisto imediatamente de armar a barraca, embora possa ainda vir a fazê-lo nas outras duas noites que pretendo passar aqui. Ligo para ela, quem, muito solícita, indica-me o Hotel Alvorada, ao lado da Rodoviária. Enquanto falo ao telefone, para um carro com um rapaz e duas garotas que, sem cerimônia, vêm fazer fotos ao meu lado. Estão todos etilicamente alegres e isso me contagia. Convidam-me para ir à praia com eles. Digo que até gostaria, mas que preciso primeiro chegar, instalar-me e refrescar-me. Ao atingir o hotel, gosto do que vejo.
Desmonto a bicicleta, vou para o quarto e em meia-hora já estou banhado e perfumado caminhando pelo sol poente de Santa Helena, em passos apressados para atingir a praia fluvial antes que escureça de vez. Esta é longe pacas… não chega nunca. Mas não esmoreço, acelero inda mais. E finalmente… o Lago de Itaipú.
A praia é um tanto (bem) diferente do que imaginava… às suas margens carros tunados bombando músicas de variados estilos, num troar de sons desencontrados. As garotas dançam os rapazes bebem. É uma festa generalizada.
Ao passar, sou reconhecido por uma das garotas que me havia aboradado para a foto, uma hora atrás, a Vanessa. Ela me convida a chegar e chama o rapaz, Daniel. Este ao me ver me abraça, apresentando-me aos amigos e me oferece um copo de cerveja. Era tudo o que eu queria, pois estava prá lá de sedento. E fico ali trocando idéias e vendo as garotas dançarem.
Mas, estranhamente, não consigo entrar no clima… E após mais um ou dois copos decido seguir andando.
Agora é noite e tenho fome. Não comi praticamente nada além de bananas. Volto à cidade e encontro um restaurante. Para minha surpresa a casa está lotada… de jogadores de bingo (que na casa de minha avó chamávamos de tômbola). É muita gente mesmo.
Dirijo-me aos fundos – onde também há mesas e jogadores – e me trazem o cardápio.
Peço uma tilápia grelhada e uma cerveja. Cerveja só em garrafa, desisto e alterno o pedido para uma água. Janto deliciosamente e paro nesta lan-house, às 22:32 hs, para não deixar de comparecer no dia de hoje. Ponto.
PS 1: A partir de hoje, o site do Projeto Rodas Livres traz duas maravilhosas novidades: Agora temos tradução automática para inúmeros idiomas e também a localização da bicicleta real time. Ambos graças aos préstimos do Luiz Couto, um dos coordenadores da nossa equipe de apoio voluntária.
PS 2.: O vídeo de cabeça para baixo deve-se ao You Tube Editor, que não mostra de imediato o resultado da edição… Ele diz que demorará um tempo para o vídeo aparecer na posição correta, então você confia, posta – e dá merda.
RESUMO CICLÍSTICO:
DATA: 30. Outubro. 2011 / Domingo
LOCAL: Santa Helena, Paraná (Brasil), ALTITUDE: 258m
POUSOS: 18
TEMPO: Chuva pela manhã, nublado o restante do dia. Esparsos momentos de sol.
TEMPERATURA: 13ºC a 26ºC
KMs PEDALADOS HOJE: 90 km
MÉDIA: 10 km/h
VELOCIDADE MÁXIMA: uns 60 +-
HORÁRIOS PARTIDA / CHEGADA: 08:30 hs / 18:00 hs
OCORRÊNCIAS: nada
TOPOGRAFIA: serras
CONDIÇÃO FÍSICA: Boa
DIAS DE ESTRADA: 58
DIAS PARADO (em reportagem, turismo ou descanso): 44
KMs PEDALADOS ACUMULADOS: 1.163 km
QUILOMETRAGEM TOTAL PERCORRIDA (inclui ar + mar): 1.163 km
Oi primo!!! acho que hoje sou a primeira mas na verdade queria mesmo saber se voce tinha chegado em Santa Helena e bem de preferência né!!! Bom pelo menos vou dormir sossegada. O lago é lindo voce chegou na hora H,ou seja, no por do sol, a estrada é bacana ,os idosos se divertem de um jeito e os jovens de outro cada um na sua praia, agora a primeira coisa que voce deve ver amanhã é o conserto do pé de vela da bike né… Bom primo durma bem uma ótima noite de descanso pra ti um beijão e fique com Deus!!1
Valeu, prima. Brigadão bj
Esses dias todos na estrada e ainda nao armou a barraca heheheheh
Rapaz… nem no literal, nem no figurado… hehe
Oi Tio. Pensei mesmo em você com a chuva de ontem. Mas achei que fosse só aqui,pensei que não te alcançaria,rs.
Qual tempo melhor pra pedalar? Chuva ou sol?bjs
Fala, Preta. Nem chuva, nem muito sol. E menos ainda dias que ficam alternando chuva e sol… O ideal é um dia sem chuva, nublado ou com um solzinho tranquilo (dia perfeito). Bjk
Gostei do gesto do comerciante simples que te deu agua e porta moedas, do garoto que te reconheceu, da peãozada do caminhão, da rapazeada da praia, dos sexagenarios jogando tombola, mais algo me intrigou:O que meu caro amigo tem contra cerveja em garrafa?.Ontem mais uma vez só aos domingos,fui almoçar e pedi uma bohemia 600ml bem gelada, cara como desceu bem, que compania deliciosa por alguns minutos, bem, depois o domingo prosseguiu sem graça, chuva, futebol ruim, um pouco de leitura, 2CDs do BB King até o sono o sono chegar.Desculpa aí Thenorio, acabei falando muito de mim e não vou apagar, a historia é sua, nos somos todos coadjuvantes.
Na garupa com chuva e tudo.
Abraço.
Jura.
Beleza, Jura. Tem espaço para histórias de todos… Não gosto de cerveja em garrafa porque é muito para eu tomar sozinho. Uma lata ou uma long-neck, para mim, são a medida ideal. Em garrafa, só com amigos… Abração
Enfim você está chegando nos limites do Brasil. Benvenido… Em breve você vai precisar do repertório linguístico da língua de Cervantes.
Buena sorte
Eu de novo, adorei a foto do cachorrinho solitario fazendo a segurança patrimonial da lavoura, um dia nos encontramos e haverá garrafas para o brinde.
Até la.
Bom dia Elcio. As fotos estão excelentes, a fotoreportagem esta tão boa quanto o texto e não é só “culpa” das belas paisagens, sei o quanto é dificil editar fotos, meus parabéns. Ainda bem que a chuva não te detonou, fez estrago feio ai na região inclusive com morte em Foz, detonou toda a estrutura do festival SWU e deixou muitos estragos em muitas cidades do interior de SP.
E você nem prá mandar as piãozada do caminhão si fuder, se é comigo no minimo um deddinho médio em riste eles veriam… É chocante saber que vc dentro de alguns dias sai do Brasil, aqui dá a impressão que vc vai entrar num abismo negro, mas não é assim, as pessoas vão te receber bem do mesmo modo, mas são mais pobres e por isso talvez não possam ser tão generosas, não que não sejam de alma, um amigo viajante foi apedrejadoi no Paraguay por uns indios malucos assim do nada, e também foi apedrejado em Moscou também do nada, cuidado com as pedras portanto, se bem que meu amigo tem cara de quem gosta de levas pedradas. Por falar em cara, as suas são ótimas nas fotos, são um capítulo a parte e acho que quando vc voltar deveriamos curar um mostra de fotos só de suas expressões, vai caprichando que esse samba ainda vai tocar em todas as rádios.
No mais, acho o sabor da cerveja de garrafa muito superior ao de lata e vc poderia também oferecer um trago pro santo e um copo para alguém da mesa ao lado já que 600ml é muito para seu gosto. Não vá nadar na lagoa porque tem piranha, cuide do pé de vela e do pinto se cair na água. Bjs carinhosos.
Devo cair na água logo mais à tarde, quando o sol arrefecer um pouco, Vitorio. Se a água não estiver turva demais, vou seguir seu conselho e ficar de olho no pinto. abração
Querido, faz tempo que não venho aqui, correria. Mas sempre torcendo. Beijo grande
Perdeu um montão de estrada, Guigui… agora tem de correr =) bj
Élcio, ai em Santa Helena tenho um grande amiga. Chama-se Iolanda. Ela é a prisenta do SISMUSA. É peguntar por lea que muitos a conhece. Se necessitar dela, certamente lhe ajudará. Se quiser fazer alguma reportagem, ela saberá lhe informar. Força e tudo de bom. Se parar em Medianeira, poderei lhe ajudar também.
Olá, Ivo. Se ela tiver alguma sugestão de pauta sobre solução ambiental, isso poderá ajudar sim. Ainda fico aqui amanhã, terça-feira.
Quanto a Medianeira, estou no aguardo da resposta do Rubiam, que me havia ofertado ajuda quando na cidade. Se por qualquer razão não rolar, então vou precisar de uma força sua sim. Devo ir para lá na quarta ou mais tardar quinta-feira.
Obrigado e abração Elcio
Olá Élcio,
Desculpe pelo erro em seu nome no meu blog. Já corrigi. Você não falou que faltava umas gatas, pois bem, não serviu as gatas etílicas…rs.
Estes Cataye é muito louco mesmo. O meu também pirou o cabeção na viagem e se não fosse o gps, tava fu[..].
Quanto ao vazamento de graxa, em qualquer bike é normal quando se pega chuva, como você pegou. Na parte de baixo do movimento central temos um furo, como se fosse um ladrão, para escoar a aguá e parece provável que este não deu conta de toda aguá, vazando por onde vazou. Tire banco e canote e vire ela de ponta cabeça para escoar o restante da aguá, que ainda possa ter.
Boa a dica da água, Vanderlei. Mas virar a minha de cabeça para baixo não rola, porque o movimento central não fica sob o selim. Aliás, nem selim ela tem… é banco. ehehe
mi amigo Pedal de Oro, vc esta muy bien, sua apariencia alegre,estas mas joven y tambien las fotos y los textos maravillosos, las chicas dançando parati es mejor todavia,si mujer esta complicado, cuidado con esas vacas mirandote, esperando que tu armes la barraca-ja-ja-ja-rs-rs-
mucha suerte y um super abrazo
te llamo x telefone
Conmigo, las bacas que se cuiden… hehe
Elcio!!!
Alívio quando vemos que chegou bem, delícia ver as fotos, ler seus relatos, melhor ainda constatar que em cada cidade que passa os amigos se mobilizam e ajudam na próxima cidade, como o Sec. Delmar, abençoado seja! 🙂
Vamos lá a semana está só começando… Boa estadia em Santa Helena e que possa encontrar pessoas generosas, hospitaleiras, alem de boas matérias!
Beijo e fica com Deus!
Hospitaleiras e, principalmente, hoteleiras…
Linda as fotos do Lago de Itaipú.
Quanta gente bacana neste mundão…
Bjo
E todo mundo dançando funk…
É isso Elcio, pelo jeito a acolhida em Santa Helena foi boa, esse pessoal do Cultivando Agua Boa são dez, e o programa tambem é dez. Qual sua próxima etapa para ver se programos alguma coisa tambem. Abraços…
Olá, Delmar. O pessoal do Conselho dos Municípios Lindeiros foi muito legal, ajudando-me com a primeira diária (sempre a mais complicada…). Agora espero conseguir com eles alguma boa pauta. Amanhã é meu último dia aqui. Daqui devo ir para Medianeira, na quarta-feira. Abração
elcio que bom que vc ta legal to vendo que vc ta se batendo com a bike nada alarmante e normal pois vc anda muito o parana ta ficando pra traz ta chegando uma das concorente a 7 maravilhas do mundo boa sorte amigo fique com deus
É mesmo, Fabricio. Já já e o Paraná será passado… Mas ainda tem muita história pela frente. Abração, amigo
Certa vez li o relato de um cicloturista que dizia: …”minha viagem começou quando o ciclocomputador pifou”…
Preocupado em fazer fotos em uma de minhas idas a Ilha Grande, uma amiga de um ótimo astral sugeriu que as melhores fotos são aquelas que guardamos na memória e que não parasse muito pra fazer fotos, melhor curtir o passeio.
Vou postar o problema do seu pé-de-vela no Grupo Zohrer e vê se tenho alguma resposta.
Valeu, Clebson. Parece que não é nada grave… mas é bom cuidar direito da bichinha. Quanto às fotos, entendo perfeitamente. Mas minha pegada é jornalística… não tenho como fugir.
Bacana, Elcio, 90 km de pedal e curtição, paisagens bacanas, e o melhor, nenhuma queixa. Parece que o tombo é episódio superado mesmo. Não dê bola pros manés que desdenham de suas pedaladas, o mundinho deles é minúsculo, o seu está em franca expansão. Vamos firme, o Paraguai tá logo ali!