BYE BYE BRASIL
Ontem fiz algo que há tempos não fazia… jogar ping-pong. Essa é uma diversão com a qual muitíssimo nos divertíamos nos tempos de Santo André.
Lembrei-me das inúmeras tardes passadas com meus adolescentes amigos, todos de raquete em punho, desafiando-nos mutuamente. Aqui no hostel só paramos porque a bolinha amassou e ao solicitar outra na recepção fomos vetados pelo Paulo, o proprietário, pois já era meia-noite e meia.
Então fui dormir, para acordar hoje pela manhã com o céu ameaçando chuva… Antes que caísse, apressei-me em iniciar os preparativos para a partida. Aos poucos fui desmontando o acampamento, secando o que estava úmido e colocando tudo alinhado esperando o momento de ajeitar a carga sobre a bicicleta. Mas não deu tempo… um pingo, dois… e num segundo já desabava água suficiente para molhar todo o equipamento que tão cuidadosamente enxugara. Confesso que senti ódio. Meu humor azedou na hora, não consegui segurá-lo. Para piorar, descobri que uma das hastes da barraca misteriosamente quebrara. Cazzo! Foi um inferno conseguir dobrá-la e guardá-la em sua capa.
Só o que melhorou o astral foi conversar com os amigos, que vinham me desejar boa viagem. Esse aí da foto é o Wolney.
E assim saí do Hostel Paudimar Falls, entre quarto e grama minha residência oficial por uma semana, e fui em busca da Av. Juscelino Kubitschek, que me levaria à Ponte da Amizade. Segui as placas, e aproveitei a igreja para pedir proteção.
Após algumas subidas e descidas, em pouco tempo chegava ao congestionamento que prenunciava a proximidade da ponte.
Fila enorme, composta quase em sua totalidade por veículos paraguaios, Difícil o trânsito até para bicicletas.
Mas enfim o portal de entrada… fui me metendo.
Imaginei que em algum ponto do trajeto algum guarda me pararia para pedir documentação, mas isso jamais se deu.
Assim, em poucas pedaladas já atingia o meio da ponte, por sobre o meio do rio, onde convencionou-se que era a divisa dos Estados. Bye Bye Brasil, te levo no peito.
Estou no Paraguai. E cheguei aqui pedalando. Não é louco isso? Imediatamente senti a mudança…
… a concentração humana quadruplicou-se, uma gritaria, muito papel espalhado pelas ruas, muita gente acenando para mim, cumprimentando-me, comentando à minha passagem.
Invadi o país vizinho sem prestar qualquer satisfação à polícia fronteiriça, sem apresentar qualquer documentação. Y hola a la derecha, buenos dias a la izquierda.
Então o celular tocou. Era o Rafael, meu anfitrião em Ciudad del Este, graças ao Servas International. Ele me dava indicações de onde nos encontrarmos, mas eu mal o ouvia.
Entendi que deveria seguir em frente pela avenida principal até a terceira rotatória, onde ele estaria à minha espera. Subi pedalando, sempre distribuindo acenos e cumprimentos, já que é absolutamente impossível dissimular minha presença como às vezes gostaria.
E fui tocando, com alguma dificuldade para vencer a subida já que com a mão direita trocava de marchas, acionava o freio traseiro, dava tchauzinhos e empunhava a câmara fotográfica, sacando fotos tudo o mesmo tempo. Era o que dava para fazer…
Após muito pedalar, senti que algo estava estranho… não chegava nunca essa terceira rotatória, a estrada ia-se abrindo numa rodovia de respeito, inclusive com placas indicando a aproximação de pedágios. Pensei: “Cáspita, desse jeito daqui a pouco chego em Asunción”.
E foi só então que me ocorreu que eu estava numa roubada. Estava perdido, não tinha o endereço dele, não tinha um guarani no bolso, havia me afastado muito do centro da cidade e, para completar, o sinal do celular brasileiro estava começando a escassear. Parei. Não adiantava seguir às cegas, isso só iria piorar as coisas. Encostei a bicicleta numa árvore à beira da estrada e tentei conseguir uma ligação. Nessa hora de sufoco chega um curioso, sorriso parvo, fica assuntando… “De donde vienes? Para donde vas?”. Queria dizer o que pensava, mas me contive. Tentei aproveitar sua presença para extrair dali algo útil: “donde és la tercera rotonda a partir de la aduana?”.
– No lo sé.
Putz… o cara só tava ali pra encher o saco. Mas nisso chega o segundo, cuia e bomba na mão. Pensei: Nãaaaaaoooo!!!! Mas esse era mais esperto. Deu-me a indicação de que teria de voltar por um quilometro. Voltei e cheguei à rotatória indicada… nem sinal do Rafael. Estacionei num posto de gasolina para pensar no que fazer, mas é complicado raciocinar com calma quando você é o centro das atenções…
Ligo para sua casa, sou atendido por um senhor muito solícito, mas que não ouve o que digo.
Era meu último cartucho, já que o Rafael não usa celular. Seja como for, a única coisa que tenho a fazer é esperar que ele me chame, rezando para o meu sinal não sumir de vez. Então aguardo pacientemente, até que por fim minhas previsões se realizam e o telefone toca. Segundo ele, estou na quarta – e não terceira – rotatória.
Ele diz que vem ao meu encontro, e dentro em pouco chega deveras, na companhia de seu filho Guillermo. Ufa! Preciso planejar melhor certas coisas. Porra-louquice não é uma tática muito aconselhável para ciclo-turistas em terra estrangeira.
Guia-me até sua casa, num bairro muito aprazível a cerca de 2 kms de onde nos encontrávamos.
Ali conheço seu pai, o Sr. Gualberto, que me atendera ao telefone. Noventa e três primaveras e o único problema de saúde é a audição. Que maravilha! Desse tempo, 5 anos foram passados em São Paulo e outros 5 no Rio de Janeiro. Disse que morou na rua Frei Caneca também. Não é possível! Mas que mundo minúsculo. Porém as referências não batiam, nada fazia sentido mesmo considerando que ele morara lá nos idos de 1937… Após muito queimar meu parco espanhol esclarecemos. Era a Frei Caneca do Rio, não a paulistana. Achei a história toda muito divertida.
E então o Rafael levou-me para conhecer uma cachoeira próxima daqui, o Salto do Monday (lê-se Mondaí).
Gravei ali uma reportagem, aproveitando-o como entrevistado. E seguimos para o Marco das 3 Fronteiras, lado paraguaio. Infelizmente, devido a desavenças entre Itaipu Binacional e a prefeitura de Ciudad Presidente Franco, onde está localizado, não pude chegar até ele para gravar o terceiro e último marco que faltava.
Compensamos descendo até a margem do Rio Paraná, de onde partem balsas para o lado Argentino, exatamente defronte onde o Rio Iguaçu deságua.
Daquele ponto, quem vê o Iguaçu, calmo e plácido…
… não supõe o inferno de águas revoltas que o caracteriza 1 km acima. Local tão infernal que até Garganta do Diabo há…
Ainda fui conhecer um santuário, o Santuário de la Virgen de Schoenstatt, que surpreendeu-me pelo zelo com que é mantido.
E por fim voltamos à casa, onde me foi servida uma deliciosa iguaria da culinária paraguaia, um biscoitinho crocante que se chama chipa piru.
Mañana pienso ir al centro de la ciudad, volver al puente para declarar mi entrada al pais y hacer las compras que necesito: gafas de sol, nueva bateria para el telemovil, tablet y a lo mejor un panel solar para cargar el telefono. Ufa!
RESUMO CICLÍSTICO:
DATA: 15. Novembro. 2011 / Terça-feira
LOCAL: Ciudad del Este, Alto Paraná (Paraguai), ALTITUDE: 210m
PAISES: 2
POUSOS: 21
TEMPO: Ameaça de chuva o dia todo
TEMPERATURA: 15ºC a 26ºC
KMs PEDALADOS HOJE: 20 km (Foz do Iguaçu a Ciudad del Este)
MÉDIA: 10 km/h
VELOCIDADE MÁXIMA: 25 km/h
HORÁRIOS PARTIDA / CHEGADA: 11:00 hs / 13:00 hs
OCORRÊNCIAS: saí do Brasil!
TOPOGRAFIA: cada vez mais plano
CONDIÇÃO FÍSICA: Excelente
DIAS DE ESTRADA: 74
DIAS PARADO (em reportagem, turismo ou descanso): 57
KMs PEDALADOS ACUMULADOS: 1.326 km
QUILOMETRAGEM TOTAL PERCORRIDA (inclui ar + mar):1.326 km
Bye, bye Brasil, Holla PY…a falta de sinal do celular em outros tempos era como a espera da ultima ficha cair. Mais um MARCO, cruzou a fronteira de bicicleta! Agora só enrolar a língua e seguir a sua volta. Tô orgulhoso de você!
Brigadão, Elói. Simbora pra fora que ta na hora rs
Verde que te quiero verde/ verde viento, verde rama/ El barco sobre la mar e el caballo na montana/Verde que te quiero verde/Com la sombra em la cintura/ ella suenha em su baranda/ verde carne pelo verde/ com ojos de fria plata. Que o espírito de Garcia Lorca o proteja em terras guaranis.
Toda protección és muy bienvenida, Renato. Gracias
Elcio!!!! uhuuu primeira fronteira!
Que sensação difícil de descrever, mas a recepção que teve, essa defino como calorosa! Rafael e família te acolhendo do outro lado desse nosso Brasil, começou muito bem!
Gostei das fotos, lugares, pessoas, biscoitinhos, lindo o Santuário de la Virgen de Schoenstatt, o Salto, rio… enfim belo início de uma nova etapa.
PS. Muitos anos atrás numa viagem ao Paraguai minha turma queria me jogar dessa ponte hahahhaha pq eu teimava em hablar espanhol com eles hahahaha
Beijo e Deus te acompanhe! 🙂
Entonces ahora podrás hablar mucho más, Vera. Aprovecha!
Feliz viagem pelo mundo, companheiro!
Valeu, Amilcar. Vam q vam
Minha singela homenagem, uma cantiga que aprendi quando criancinha em espanhol (vem daí minha fluência) que ofereço com amor e carinho 😛
EL BARCO CHIQUITITO
Era una vez un barquito chiquitito
y era una vez un barquito chiquitito;
y era una vez un barquito chiquitito;
que no podía, que no podía,
que no podía navegar.
Pasaron una, dos, tres, cuatro,
cinco, seis, siete semanas
y los víveres, y los víveres,
empezaron a escasear.
Si la canción, si la canción,
no les parece a ustedes larga;
la volveremos , la volveremos,
la volveremos a empezar.
Agora decora tá? 🙂
Manda o link da linha melódica, Vera =)
Que aventura! Aproveite bem a estadia em casa. Quando for ao centro amanha, por indicacção do meu filho que tem um samsung como o seu, de uma passada na casa cell motion no shopping jebai. Ele disse que atendem bem e tem bom preço. de qualquer maneira de uma pesquisada.
Um abraço desde Vitoria
Hola, Magdalena. Gostei muito deste delicioso labirinto =) Quanto ao shopping, hoje comprei um tablet, mas essa indicação me será muito útil para encontrar bateria para o meu celular, que não estou conseguindo encontrar. bjão
É isso aí, Elcio!
Pé na estrada e boa sorte. Você já conquistou muitas cidades européias, algumas conquistamos juntos, então, adelante hermano!
Vai dar tudo certo.
Estamos aqui, o pessoal da Sampa e Ubatuba,torcendo por você.
Grande abraço
Pois é Emersão. Adianta nada ter medo não. Ainda bem que temos esta gana de girar, já nos proporcionou muitos momentos inesquecíveis. Forte abraço
Que legal!!! 😉
Tb acho, Mari =)
Lembre-se.
Si bebio, no maneje.
Gostei.
E o comboio segue.
Segue, mas sem bebida =)
Olá Elcio!
Boa sorte neste pais fora do Brasil. Que as pessoas sejam cordiais e hospitaleiras com vc.
Bjs de luz e Deus te acompanhe.
Valeu, Marilia. Até aqui zuzuzen, bj
É isso aí, Arabal, todo mundo presente e ciente das mudanças, que por certo haverá. Parabéns por essa primeira etapa, vencida com louvor.
Valeu, Dédo. Sei do apreço que dedicas a la tierra guarani. Vamos então explorá-la in loco. Segundo o Polé, meu velho chapa, é um país que merece todo o respeito, até por ser o único da América latina que tem lingua própria. abs
Gostou de FOZ ?!! ( bendita maçonaria ) Boa viagem ! aguarde boas novas ! Estaremos sempre com voce !!!
Blz, Carlão. Simbora
É isso Elcio, agora ciclista internacional, náo é o caso mas se parasse agora já sería um feito extraordinário, como sei de sua determinação ,espero com fé que você seja bem tratado em terras estrangeiras,e siga sem maiores problemas.
Continuamos juntos
Beleza, Borba. Vai treinando o espanhol aí.
Welcome abroad!
Ahaha… o pior é que é verdade…
Parabéns meu amigo, gde conquista!!!
Sorte!!!
Bjão
Sou um grande conquistador, Andréa? Ué… então num to inteindeindo =)
Parabéns pela passagem de fronteira e pelos dias de camping, hoje li seu post em espanhol pela autenticidade!
Pensei que fosse carimbar em toda emigração, um para rechear o passaporte outro para não ter problemas no interior do país.
Agora sem o sinal do celular o latitude não vai mais funcionar, sentirei falta de lhe acompanhar na estrada. De volta ao Spot! Abraço
Vamos tentar contornar o problema do Latitude, Luiz. Talvez com celular pré-pago.
Primeiramente parabéns pela conclusão da primeira etapa brasileira. O Projeto está bem legal, informativo e convidativo à leitura e acompanhamento.
Bom, agora vou “pitacar” pois do que falarei entendo um pouco: cuidade com essa barraca. Tenho um modelo parecido. Cara, já tive vontade de jogar fora quando fui dobrar. Lembra-te que barraca é artigo de primeira necessidade na atividade que está fazendo. Na hora do aperto que precisar parar para um pernoite sem planejamento, proteger do frio, vento e prevenir uma hipotermia … Te dou uma sugestão: vai procurando uma convencional, dessas que precisa montar as varetas pra armar. Com teto e sobreteto e se puder e conseguir, varetas de alumínio (ou duralumínio). Desculpa ficar palpintanto assim gratuitamente … certamente vc tem o conhecimento necessário para o que se propos a fazer. Grande abraço e pé na estrada.
Tenho não, Clebson. To aprendendinho tudo a duras penas. Pitacos são bienvenidos.
Oi primo!!! Graças a Deus ocorreu tudo dentro dos conformes sua saída do Brasil, porém deve ter se assustado quando se deparou com o erro da rotatória e teve que voltar e esperar o Rafael né !!! Adorei a Igrejinha, o jardim e os biscoitinhos…o tempo aqui ainda permenece ruim nublado e chovendo. Que pena que não deu para fotografar o lado Paraguaio!!! Adorei aquela foto da cachoeira com um arco-irís de brinde muito bacana. Bom vou ficando por aqui, um beijo grande e boa estadia ai no Paraguai…
Blz, Elianinha… vejamos o q nos reserva la tierra guarani. beso
Ok vc venceu!!! Parabéns, e que venham terras paraguaias! Continuamos na garupa desta aventura torcendo prá q td dê certo!! Sempre encontando gente boa, né? Adorei a recepção, as fotos, os biscoitos, tudo… Fica com Deus. Bjs.
Agora ceis tudo tem de aprender espanhol, Bebel. E já já guarani =)
Ufa que sufoco garoto, vc largadinho no Para-gua:)
Daqui de Cascacity frequentamos bastante as compras paraguaias, dá pra se achar de chouriço a Ipods!
FINALMENTE COMEU AS CHIPITAS, MACANUDO!
sORTESS
Chipitas…. si. Ahora estoy viciado hehe
Que bueno que veo que en cada ciudad en la que se consolidará el proyecto. Espero que a partir de este nuevo país, todos reciben así como, el Paranaenses y Paulistas recibió.
Amigo buena suerte y que Dios esté con
Gracias, Vanderlei. De hecho, tengo sido muchissimo bien recibido por todos los sitios donde he pasado.
Amigo RADIO FLYER; aquí me despeço desejando-lhe toda a sorte do mundo. Que Deus esteja contigo em todos os momentos. Um forte abraço e nunca se esqueça de seu verdadeiro amigo.
Se despede por que, cáspita? Que papo de suicida é esse, Zéca ? =)
É pra frente que se pedala!
Um a zero.
Baita goleada.
parabéns
p.polé
Valeu, Polé. Brigadão pelo incentivo.
Oba…já somos todos garupeiros internacionais!! Boa sorte nessa nova etapa amigo…que Deus te acompanhe a cada pedalada…
Elcio, atendendo milhares de pedidos segue o link da cancione ahahhaha 😛 Beijooo!
http://www.123teachme.com/learn_spanish/node/6424
Aê, Vera… agora vou sair por aí cantarolando… bj
olha que me deu um nó na garganta quando se despediu do Brasil…
Mas é pra frente que se anda! De pedalada em pedalada venceu a primeira fronteira. Eita primo!
Hoje já voltei pra trás, prima. Rapidinho. hehe bj
Depois de tantas entrevistas e reportagens é difícil passar despercebido, mas tudo faz parte.Bjsss.
Vou começar a cobrar, cunhada hehe
Avante Amigo!!!
Sim, mas com pausas, Lica hehe
mundo grande sem porteira…
Às vezes tem algumas, Delma : )