E OS ANJOS LEVARAM MINHA MÃE PELAS MÃOS
Quando faltavam 3 dias para o natal, na quinta-feira, dia 22, acordei às 06:30 hs com um telefonema do meu sobrinho Iberê, no qual me comunicava que minha querida mãe, Antonieta, 85 anos, acabara de falecer na clínica onde se encontrava internada há um ano e meio, em Sorocaba.
Em circunstâncias outras ficaria extremamente triste, mas o que senti foi alegria. Ela enfim deixara a condição inumana em que o Mal de Alzheimer a colocara ao longo de um período indefinido, mas que calculo em uns 6 ou 7 anos. Nos últimos 6 meses já não comia, andava ou nos reconhecia. Que viva a morte, pois, sendeiro redentor das almas encurraladas no beco sem saída dos estados terminais. Mãe, que toda a glória lhe cubra os ombros, por toda a doçura com que nos conduziu a todos.
Foi sepultada em Piedade, no alto de uma colina, numa tarde ensolarada…
… a não mais do que 100 metros da sepultura onde jaz o homem a quem por toda a vida tanto amou, meu pai.
São dois jazigos simples, sem edificações ou epitáfios que os identifiquem. Mas os que tem de saber bem sabem a vasta história que encerram, de luta, amor, drama e plenitude. Não conseguimos colocá-los no mesmo local, mas isso agora pouco importa. Bem menos do que o fato de eu encontrar-me, contra todas as previsões, no Brasil – onde pude velá-la, como era o meu desejo. Sinto-me reconfortado por ter podido, uma derradeira vez, beijar-lhe os cabelos.
Quanto a mim, que tenho ainda de seguir dando sentido ao ser que me anima, busco definir se aceito ou não o projeto que me está sendo proposto de dar uma volta pelo Brasil antes de retomar o trajeto internacional. Hesito, porque minha coluna, hoje sustentada por 9 peças de titânio…
… segue pinçando o nervo do meu braço esquerdo, já tendo inclusive comprometido-o.
Tenho receio de aceitar o desafio e ter de interrompê-lo inconcluso ou, pior, lesar inda mais meu nervo e perder os movimentos da mão.
Enquanto isso trato de preencher de alegria os meus dias, como fiz na terça-feira passada, bebendo de bem com os amigos, na companhia do Fernando, do Felipe e da Melissa.
E como refiz ontem, na companhia de outras tantas pessoas queridas: Zéca, Elzira, Paulinho, Jorge, Alcione, Marcão, Flávia e Silvio. Juntos, cantamos até o amanhecer a alegria de podermos cantar.
Sim, pois resta-nos fazer bom uso da vida que nos foi legada pelos nossos queridos pais, no meu caso idos pais.
RESUMO CICLÍSTICO:
suspenso até retorno à estrada